DURÃO BARROSO EM ANGOLA: Lá haveria de chegar o dia de o actual Governo ser criticado, no Mar Salgado, pelo lado... direito. Foi hoje.
Ao contrário do VLX, não acho nada que a saudação de Durão Barroso tenha sido "excessiva", "desnecessária" e "ofensiva" para os nossos heróis nessa mesma guerra. Embora não seja propriamente um adepto da ideia de "responsabilidade histórica" (os meus muitos pecados e malfeitorias são-me mais do que suficientes), compreendo que o desenvolvimento de relações amistosas, ou, ao menos, pacíficas, entre grupos sociais (sejam eles Estados, raças ou religiões) precisa, por vezes, de gestos deste tipo. E por isso a Alemanha do pós-guerra homenageou oficialmente o povo judaico; e por isso o Papa pediu desculpas públicas pelos actos de perseguição historicamente imputáveis à Igreja Católica.
Ora, reconhecer os "heróis" da independência de Angola não implica ofender ou esquecer o heroísmo daqueles que, no cumprimento do seu dever imediato, procuraram impedi-la. Tanto que nem se pode ver, nas palavras de DB, a assunção de uma responsabilidade semelhante aos exemplos citados. Aliás, a verdadeira responsabilidade pelos confrontos tem donos, que na época estavam identificados com muita clareza (convém não esquecer as sucessivas resoluções das Nações Unidas, desde 1961, estabelecendo a ilegitimidade da política colonial portuguesa e o direito dos povos em causa à auto-determinação).
De modo que o texto do meu amigo VLX é fruto de uma certa visão do passado que, no presente, me parece não ter futuro. Os armistícios são, por vezes, processos longos, tão longos quanto o necessário para o estabelecimento de relações de confiança entre os povos. As palavras de Durão Barroso foram um acto político, mais ou menos necessário, mais ou menos oportuno, mas não foram ofensivas para ninguém. Nem se pode afirmar que não nos ficam bem. O que nos fica, definitivamente, mal, é não compreender que se saúde hoje a independência das antigas colónias e os seus obreiros.
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