E CONTINUA... Há algo de enviesado na linguagem actual dos demiurgos da política. Depois da sociologia do assobio ( na Luz, ao 1º Ministro), agora é o Presidente Sampaio que mete a foice na psicologia: Portugal tem um problema de auto-estima.
Que causará esta endémica falta de amor-próprio? Os portugueses, alvitrei aqui no Mar Salgado há uns tempos, são um povo histérico. A maioria das pessoas associa a histeria ao seu lado paroxístico, ou seja às crises de humor mais ou menos teatrais, ignorando a faceta conversiva, a somatização muitas vezes discreta e silenciosa: já não o meu rabo é de vidro dos tempos de Elísio de Moura, mas as enxaquecas resistentes, a astenia inexplicável, etc. Mas o defícit de amor-próprio também é uma característica do histérico. Ao contrário do obsessivo, que tenta controlar o mundo, ou do fóbico,que se tenta controlar a ele próprio, o histérico aspira a controlar a medida do afecto dos outros. Ama-se na medida em que o amam, depende quase exclusivamente de uma fonte externa de devoção e de afecto.
Os portugueses têm um problema com a sua auto-estima? Não, porque a auto-estima, palavra modernaça para orgulho, necessita de uma certa dose de risco e solidão. Forjam-se nessas coordenadas, qualidades que depois serão admiradas por outros. Os portugueses, como bons histéricos, queimam etapas: têm de ser os outros a reconhecer-nos capacidades. Dispensamos assim a laboriosa tarefa de nos erguermos, oferecemo-nos sedutoramente aos golpes do destinos e das perdas. A defesa do histérico é astuciosa: se os outros nos amam, é porque alguma coisa temos de bom, finalmente o reconhecem; Se as coisas nos correm mal, é porque os outros nos abandonaram ou prejudicaram.
Claro que neste Campo de Marte, nada se constroi de definitivo.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.