MAESTRO! Existem personagens com as quais se simpatiza, porque começamos por gostar delas mais pelos seus defeitos do que pelas suas virtudes. Depois, estas últimas parecem quase obrigatórias. Vitorino de Almeida é uma delas. Hoje no Independente, o Maestro volta a um tema que lhe é caro, o nosso provincianismo peganhento, e dá como exemplo o estardalhaço que a vinda a Coimbra dos Rolling Stones causou. Diz ele que se numa qualquer outra cidade europeia, eles dessem dois concertos, só os cartazes de promoção do o refeririam.
Passe o exagero, delicioso no Maestro, o nosso provincianismo foi muito além do alvoroço. Recordo-me de ter lido aqui na blogosfera, entre outras alarvidades semelhantes, alguém que se regojizava com o caos na cidade, com a vida jorrante desse caos, com os jovens de mochila sentados à beira dos cafés trocando confidências, e outras frases que não consigo reproduzir, porque felizmente não fui dotado com o mesmo jeito para a poesia-prosa adolescencial-enjoativa. Mas perberam a mensagem: aquilo (o concerto e o caos) é que por momentos arrancava Coimbra do provincianismo e a entregava, qual Eurídice a Orfeu, nos braços do cosmopolitismo.
Como ensinava Ortega y Gasset, provinciano não é o que vive na província, mas aquele que julga que o lugar onde vive é o centro do mundo. E este lugar não tem necessáriamente de ser físico. Como no caso que vos relatei, pode também ser cultural ou político. Apanhamos assim com desabafos de provincianos verdadeiros, daqueles que meia-dúzia de leituras não impedem que sorvam esparvoados qualquer brisa que corra. Neste caso, imaginam que o cosmopolitismo é ter uma cidade paralisada ( o tal caos) por um concerto de rock. Provavelmente esste provincianismo radica num desenraizamento: ainda não são de uma cidade, mas também ainda não deixaram de ser aldeões.Será mais ou menos a mesma coisa do que a tia Miquelina das Couves, achar que Poço das Unhas atingiu o orgasmo cosmopolita, porque a comitiva do cantor Melão engarrafou o trânsito da única rua da aldeia por dez minutos. E o que é triste, é que a tia Miquelina acaba por ser a menos provinciana da história: o seu provincianismo é apenas obrigatório e provisório, deve-se sobretudo ao enclausuramento físico e cultural; e por tal, não só não apreciou o reboliço, como não confundiu o cantor Melão com a civilização. Já os que exultaram com o pretenso cosmopolitismo breve de uma cidade engarrafada, colocaram-se a eles mesmos no centro, de facto. Mas da parvónia pretensiosa.
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