PORTUGAL AMORDAÇADO: Não o do livro de Mário Soares, mas um outro incrívelmente parecido. Um dos argumentos responsáveis pela peau de chagrin portuguesa é de que qualquer comportamento vergonhoso se deve à desigualdade económica. Assim se justifica a pouca vontade de estudar, o cuspir para o chão, a mortandade nas estradas, o lixo televisivo. Se as pessoas são mal educadas, grunhas e boçais, tal se deve ao facto de poucos terem tudo e muitos não terem nada. A impunidade daí resultante é inevitável, seja nas representações sociais da justiça ( "só os poderosos a conseguem") seja nas representações sociais da autoridade ( "não estamos no antigamente"). Escudados no argumento da desigualdade, os portugueses não conseguem soerguer-se da mediocridade, antes a entendem justificável, uma vez que "não os deixam ir mais longe".
Desta forma, coisas simples para as quais não é necessário ser-se rico, como prezar a boa educação, ser-se trabalhador, honesto ou solidário, e que se podem verificar nos habitantes de qualquer aldeia serrana, tornam-se impossíveis de alcançar.
Os meninos de Coimbra, talvez mais do que as duas dezenas que boicotaram o Senado, prometem "cortar auto-estradas" e "perturbar a cidade", porque não querem pagar 12 contos por mês de propinas. Acho muito bem. Achava no entanto ainda melhor que lhes pusessem à disposição, durante essas manifestações, ecrãs gigantes com futebol e Big Brother, videoclips do Melão, cerveja e bifanas à discrição. Sempre se sentiam mais em casa e poupavam naquilo que habitualmente esbanjam.
Não queremos que lhes falte nada, são as elites de amanhã.
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