QUERIDA CHARLOTTE: Eis uma oportunidade para aplicar o seu douto juízo sobre um fracturante tema de política actual.
O senhor Schwarzenneger foi eleito governador da Califórnia através de um processo denominado recall, ou seja, a possibilidade de, a todo o tempo durante um mandato e reunido um número pré-determinado de assinaturas, os eleitores poderem destituir o seu Governador. Isto acontece num estado em que os eleitores são consultados inúmeras vezes para obrigar o Governo a novas despesas (sociais, de investimento, etc.), o que normalmente fazem, ou a autorizarem novos impostos, o que normalmente rejeitam. É o sítio do mundo em que a democracia directa foi levada até ao maior extremo.
Em Portugal, de vez em quando, também somos atacados por uma fúria referendária (umas vezes por boas, outras por más razões, não interessa para o caso). Mais dia menos dia viveremos uma situação parecida com a Califórnia (Tarzan Taborda vai-te preparando...).
Neste contexto, um artigo recente do Washington Post faz uma proposta linguística sobre a qual queria consultá-la. O autor refere, a certo ponto, que uma vez que se caminha para uma situação em que os cidadãos emitem opinião sem mediação e sem deliberação dos seus representantes, o termo mais apropriado para o sistema político seria idiocracia (da raíz grega idios, que quer dizer pessoal, particular, individual), em vez de democracia (da raíz grega demos, ou seja, povo, comunidade). Seguindo este raciocínio, segundo o autor, democracia directa seria um oxímoro.
Chegado aqui fiquei, como se nota, totalmente baralhado. É por isso que optei por esta interpelação, porque não gostei da ideia de me definir como um idiocrata (não sei porquê, não me cai bem). Além de que levanta problemas diversos: a esquerda passará a falar em idiocratas de Abril ? O Bloco e o PC farão inflamados apelos à unidade de todos os idiocratas ? Não me parece que venha a conseguir chamar a alguém idiocrata-cristão sem colocar em risco a minha integridade física.
Ilumine-nos por favor !
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