TANTO PIOR PARA OS FACTOS, dizia enraivecido Hegel, quando a realidade não se conformava com a leitura que dela fazia. Parece que Rui Rio para lá caminha, a julgar pelos protestos de muitos agentes da Polícia Municipal do Porto. A coisa começa porque ao contrário do que Rio jurou, os arrumadores não desapareceram. Isto sei, e chega para justificar o que vou escrever a seguir. Para além disso, as TV´s têm assegurado uma versão dos polícias : não apreciam a indicação que vem da Camâra, sobretudo a que os obriga a recolher arrumadores no seu local de trabalho, para depois os irem despejar, como lixo, em baldios das redondezas. Se isto é ou não verdade, logo se verá, mas também não é o essencial: Rio jurou acabar com os arrumadores, ouvi eu muitas vezes, e eles não acabaram.
O caso Rio-arrumadores é um perfeito exemplo da ingenuidade face às intoxicaçoes. Rio não queria arrumadores toxicodependentes e por tal gizou um plano, que sempre me pareceu saído da cabeça de um dos irmãos Metralha: pegamos num arrumador, desintoxicamo-lo, vestimo-lo e alimentamo-lo; Depois explica-se ao indivíduo que a partir de agora , tendo-lhe sido dada uma oportunidade para sair do mundo da droga, não se lhe volta a tolerar o vício de arrumar carros.
Os patetas do costume, que vislumbram a Inquisição em qualquer arremedo de autoridade, desde cedo viram no plano de Rio mais um exemplo horrendo de autoritarismo reaccionário. Eu, sem mérito, desde cedo, vi no plano mais um exemplo de voluntarista engenharia social utópica, que como sempre, sacrifica a as pessoas que vivem dentro do mundo real.
Por exemplo, José Machado Pais, na Análise Social, vol.XXXVI, de 2001, descreve bem o equilíbrio, imperfeito, talvez, mas o possível, que os arrumadores conseguem, entre vício e prazer, por um lado, e sobrevivência minimamente razoável, por outro.
Mas há sempre alguém que incendeia o mundo com uma solução perfeita. E quando o mundo resiste , manda outros recolher as cinzas.
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