UMA BOA ALTURA: O Paulo Gorjão, do Bloguítica Nacional (link na coluna da direita), referencia amavelmente o meu post Carta aberta à Dinamarca, Noruega , Irlanda e outros, terminando enigmáticamente dizendo é por isso que continuará a haver esquerda e direita.
Bom, eu não sei exactamente o que o que o Paulo quis dizer, embora ele deixe perceber que concorda comigo. Mas deu-me a deixa: porque é que a esquerda portuguesa institucional alinhou no EURO-2004? Porque é que um país pobre, e com muito para fazer em áreas essenciais, tem uma esquerda que se calou desta maneira? Longe vão os tempos em que EPC, encarregado da defesa oficial, sentenciou: quando a capela Sistina foi pintada pelo mestre, também ainda havia fome.
Ou seja, seria demagogia recusar o circo da bola só porque ainda existem bolsas de pobreza. Mas eu não falei (só) de pobreza. Falei de investimento em áreas essenciais, que óbviamente faz mais falta às classes desfavorecidas, com menos meios e possibilidades. A Holanda e a Bélgica, países com um nível de vida infinitamente superior ao nosso resolveram no EURO-2000 partilhar custos. A Dinamarca e a Irlanda nunca foram em futebóis.
Esta esquerda portuguesa, calou-se miseravelmente na altura, e agora põe o cachecol ao pescoço e participa afanosamente em mui fascistas extâses, comunhões, exibições de luxo, delírios de massas. Se fossem coerentes, antes sequer do projecto de candidatura, teriam denunciado a demencial opção de gastar 800 milhões de euros em estádios de futebol: quanto mais não fosse, pelos príncipios, que só eles têm.
Defendem o povo à porta de uma fábrica que fecha, mas levam-no pela mão ao circo, mesmo quando ele não tem dinheiro para o bilhete. Esta esquerda não serve de exemplo.
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