INÚTIL, a cartilha do sexo seguro, hoje, na revista do DN. Entre outros mandamentos já habituais, um houve, que como um gato pára o meu perdigueiro citadino, me parou a mim: Confiarás apenas em ti.
A lógica é esmagadora: por detrás ( por dentro?) de um (a) belo (a) desconhecido, está um infectado manhoso. Terás assim de ser bravo, e exigir-lhe o preservativo ou mostrá-lo tu, como quem apresenta o cartão de sócio. Diz a cartilha misteriosamente assinada por CP/NM, que não há que temer a timidez, a baixa auto-estima ou o receio de perder o parceiro: se ele o rejeitar só por isso é porque definitivamente não vale a pena.
Aviso a navegação que dispenso as ladainhas das boas intenções. Trabalhei vários anos na prevenção da SIDA, para a CNLS, remunerado, e como voluntário, numa ONG. Ou seja, como muitos outros, aprendi e experimentei as dificuldades do discurso preventivo. Agora, este mandamento é um lixo inqualificável.
Promover a desconfiança, isolando qualquer relação amorosa como uma relação potencialmente perigosa é uma das razões pelas quais este tipo de propaganda não tem funcionado. Num outro mundo, (o de W. Reich?) em que copulássemos alegremente com os vizinhos, sem restrições à nossa satifação instintual, talvez. Neste não. A confiança não pode ser definitivamente reduzida a um pedaço de borracha.
Claro que existem contextos específicos, como os dos clientes de prostitutas e das próprias prostitutas. Existem outros contextos, nos quais a confiança é um pedaço de borracha. Mas passar a ideia que quem recusa um preservativo não vale a pena é tão absurdo que o alvo da mensagem instintivamente a recusa. E se recusa, não funciona.
Para além disso, este tipo de mensagem, fria e paranóica-litigante, dá argumentos aos saudosistas da outra moral sexual. Eu pela minha parte, apenas a recuso na sua eficácia. Não é disso que estamos a falar?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.