LUTAS ESTUDANTIS: Ainda mal recuperado de uma febre doentia e de árduo trabalho, leio avidamente os jornais atrasados. Parece que mais uma manif’ do ESP se deu esta semana. 50 alunos no Porto, 400 em Coimbra e algumas centenas em Lisboa. «Mas ficou marcada a posição», disseram os líderes estudantis.
A posição deve ser esta, já era assim há quinze anos: a coisa vai muito bem no Outono, em festangadas várias, até à latada ou até meados de Novembro. Passeatas, novos amigos, praxadelas, manifestações, barulho. Depois (estamos agora a viver o momento histórico), começam a preocupar-se com as primeiras frequências e exames, com os presentes de Natal, as roupas novas (quando não o carro ou a mota), ou com as explicações para as notas (ou falta delas) nos exames. Que se lixem as manifestações e as propinas! É preciso é saber se o velho paga a viagem de fim de ano a Cuba, que dizem estar o máximo!
Em Janeiro volta a farra, alguns com as orelhas a arder. Chama-se a comunicação social e pintam-se umas paredes mas no fim do mês fecha-se tudo (ou quase tudo) a estudar para os exames. Logo a seguir é Carnaval, ninguém leva a mal.
Março e Abril é o diabo, há que trabalhar para alegrar a família na Páscoa. Depois desta é a Queima, finda a qual, com a ajuda dos Guronzans, se começa a trabalhar a sério. Que se lixem as propinas e as prescrições. «Tenho é de passar senão o velho dá-me com o cinto e, o que é pior, corta-me a guita!...» Acabados os exames toca a rumar ao Algarve com a malta, não sem antes ir a casa trocar de roupa e sacar umas massas. «As notas só vão sair em Setembro, esta canalha dos Prof’s não quer trabalhar...» Em Setembro é tentar passar, boa sorte a todos.
Outubro é novo ano, regressam todos à Universidade, para novas passeatas, novos amigos, praxadelas, manifestações, barulho.
A tradição continua a ser o que era. Mesmo com a juventude irreverente.
Post scriptum: aqui há algumas semanas atrás, Adeodato Pinto pôs no Santa Ignorância um texto através do qual me tentava convencer da bondade das suas posições face a este tema. Não lhe respondi de imediato por diversas razões, que lhe expliquei directamente: a minha falta de tempo crónica impedia-me de ler e de apreender com a atenção suficiente e com o respeito que me merecia (e continua a merecer) os motivos invocados. Acontece, porém, passado este tempo todo, que os fundamentos enfim lidos atentamente não me convenceram, pelas mais variadas razões. Do ponto de vista do contribuinte que sou, nada justifica, nem mesmo a contabilidade mais engenhosa, que se financie o cábula. Nem percebo também que o aluno sério seja contra as prescrições. Menos ainda que pense que pode andar de graça anos e anos a tirar um curso superior.
Ao Adeodato Pinto, com toda a consideração e agora publicamente, as minhas desculpas por só tão tarde lhe responder, além do mais de forma tão breve e sintética.
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