O ÓDIO DE ESTIMAÇÃO: Há uns anos atrás, num texto inesquecível (depois publicado na compilação A Causa das Coisas), Miguel Esteves Cardoso cunhou e elaborou, em português, o conceito de "ódio de estimação" (pet hate). De jeito sintético, "os ódios de estimação são aqueles que adoramos ter. Ao contrário dos ódios naturais, cujas origens e causas são facilmente atribuídas e justificadas, os ódios de estimação são aversões fortes que carecem absolutamente de razão".
Todos temos (e quem não tem, devia ter) os nossos ódios de estimação. Eu, por exemplo, tenho vários, à cabeça dos quais se encontra Barbra Streisand. O mínimo contacto visual ou auditivo com a criatura, ou até a fonética do nome próprio, provoca-me imediatas dificuldades respiratórias e uma inexplicável ânsia de adquirir instrumentos corto-perfurantes.
Vem isto a propósito da singular coincidência de o Almocreve e o Abrupto ,dois blogues que muito aprecio, partilharem, pelo menos, um ódio de estimação: a Universidade de Coimbra. A simples menção da instituição provoca-lhes a imediata erupção espiritual típica dos ódios de estimação: Masson, em post de 13 de Novembro, ironiza finamente sobre a aula ao ar livre dada por João Loureiro, quando foi impedido de entrar na Faculdade, para enfim perorar, jocoso, acerca do "espectro do lente a pairar sobre a Academia"; JPP, depois dos posts sobre a indignidade das manifestações dos estudantes de Coimbra, declara, em post de 6 de Novembro, que o estado de direito pára à Porta Férrea, para enfim concluir que o Corpo de Intervenção só não é chamado por os estudantes pertencerem à classe social certa. (O post do Abrupto também é, por outras razões, irónico; mas não falarei disso, porque já sei que o assunto maça JPP).
Os ódios de estimação - "injustos, irracionais, irrelevantes e inatos", ainda segundo MEC - são saudáveis, mas encerram um perigo: o de serem tomados por ódios naturais. E "os portugueses são particularmente vulneráveis a estas confusões, já que gostam de inventar razões para todas as suas opiniões, mesmo as mais alucinadas e injustificáveis". Porém, não assim no caso do Almocreve e do Abrupto, que, cultos, nunca inventaram razões para estas opiniões.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.