PORTUGAL SOCIAL: O escândalo tinha de se dar e os piores temores parecem ter-se concretizado. Fonte anónima informou-nos de que teria acontecido o maior atentado perpetuado por um clube de futebol aos maiores da nossa ilustre sociedade: Lili Caneças não terá sido convidada para a inauguração do Estádio do Dragão. Infelizmente não conseguimos contactar esta ilustríssima personalidade do nosso jet-set para confirmar o boato mas tudo indica que não terá, efectivamente, recebido qualquer convite. Prossegue, assim, o regime tirânico do poder futebolístico sobre a população em geral, o que tem motivado reacções de todos os quadrantes da sociedade portuguesa e até estrangeira.
Assim, terá sido marcada para amanhã uma conferência de imprensa da M.A.L.U.C.A. (Movimento Associativo dos Líderes Universitários Contra As propinas), onde se criticará veementemente a posição deste Clube de Futebol, se exigirão convites para a inauguração do Estádio e a disponibilização de uma viatura para transportar os ditos líderes. À nossa redacção, fonte próxima da direcção da M.A.L.U.C.A. esclareceu que não fazia sentido não pagarem as propinas e terem de pagar bilhetes nos estádios de futebol ou a respectiva deslocação. Ameaçam encerrar o Estádio do Dragão com correntes, para o que já obtiveram o gracioso e desprendido apoio da Ferragens e Ferragens, Limitada (sita na Rua do Não Pagamos, 832 E). Este vai ser o último combate da M.A.L.U.C.A. antes de, em Dezembro, se iniciarem as tradicionais manifestações reivindicando o bolo-rei gratuito.
A Direcção do Clube de Futebol em causa não fez ainda qualquer comentário mas o conhecido Sr. João, o porteiro, sócio há 47 anos, já foi dizendo que no seu Estádio «ninguém mexe» e ameaça «distribuir uns quantos sopapos pelos ganapos, que é que lhes falta», caso alguém coloque correntes ou cadeados nos seus portões.
A situação para o Governo não está mais fácil: parece que alguns Deputados à AR pretendem exigir a intervenção do PR na distribuição dos convites tão desejados por forma a serenar os ânimos; foi chamado o Chefe do Protocolo para dar o seu parecer mas infelizmente o homem não liga muito ao futebol e de pouco serviu. Alegadamente, um líder partidário da oposição terá exigido a constituição de uma comissão parlamentar para analisar o assunto e outro reclamou a presença do Procurador-Geral na AR para esclarecer o modo de definição dos convites das inaugurações dos estádios já em uso.
Terá havido um Autarca que exigiu a alteração da “Lei dos Convites” e, quando lhe explicaram que a dita lei não existia, passou a clamar por ela.
A nível internacional o Governo também tem sido duramente criticado. Aznar terá mandado um telegrama a indagar o motivo pelo qual o assunto do seu convite não foi debatido na recente Cimeira Ibérica.
O representante da República Popular da China proferiu nas Nações Unidas violento discurso e exigiu, face à dimensão do seu país e da comunidade chinesa no Porto, mas também por terem inventado o Ano do Dragão, 5.000 convites. Inglaterra ameaça cortar relações diplomáticas com Portugal e considera que está a ser marginalizada apenas e só por venerar S. Jorge, a única personalidade que uma vez e sem margem para quaisquer dúvidas derrotou um Dragão.
Por todo o lado se exige a demissão do Primeiro-Ministro, caso este não arranje convites para toda a população portuguesa, emigrantes incluídos. Dado que o Estádio terá sido construído parcialmente com dinheiros públicos, todos deveriam ser convidados. Um grupo extremista quer alargar este conceito à Brisa: como as auto-estradas foram construídas com dinheiros públicos, os utentes deveriam ser convidados para nelas circularem, ao invés de pagarem portagens.
Correm boatos de que irá ser declarado o estado de sítio no país até à inauguração do Estádio do Dragão, o que não conseguimos confirmar. Confirmado, confirmado, apenas que não foram convidadas para a inauguração do Estádio do Dragão milhões de pessoas. E parece que não são só os seis milhões do costume...
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