PROPINAS IV: Vou ter de fazer um pequeno parêntesis no meu texto para responder ao caríssimo Adeodato Pinto, do Santa Ignorância, que pretendeu esclarecer-me sobre o assunto que eu tratava. Devo confessar, no entanto, que não compreendi muito bem tudo o que disse; há no seu texto um salto no raciocínio que eu não consegui acompanhar (estou velho... a agilidade já não é o que era, admitindo que alguma vez o tenha sido) e, por via disso, prefiro nem sequer cair na tentação fácil de larachar exigindo que se encham as Faculdades de cábulas.
Seja como for, compreendo bastante mal como é que um aluno que fica 7, 8 ou mais anos a tirar um curso, subsidiado pelo Estado (contribuintes) em - pelo menos - dois terços do seu custo real, sai mais barato aos contribuintes do que aquele que faz o mesmo curso em 5 anos. Isto, caro Adeodato Pinto, vai-lhe dar muito trabalho só para tentar explicar-me. E, se conseguir, sugiro que registe a patente pois muitos dos alunos gostariam de convencer os próprios pais de coisa semelhante.
Depois, sempre lhe digo: o facto do aluno que gasta 7, 8 ou mais anos a tirar o curso atrasar a sua entrada no mercado de trabalho em 2 ou 3 anos afecta também a produção da riqueza do país e atrasa o início do momento em que ele passará a contribuir, igualmente, com o seu suor, com os seus impostos para os estudantes que andam a estudar (ou em manif's). Este momento é importantíssimo na vida das pessoas pois é quando os antigos alunos se consciencializam mesmo de que andam a pagar impostos para alguns alunos passarem a vida em reivindicações, manifestações, queixas em vez de estudarem e passarem a trabalhar e a contribuir também.
As questões a que se seguidamente se refere, no seu texto, não se prendem exactamente com o que eu falava, mas sim com a gestão e não conheço suficientemente os números e a realidade actual da Faculdade de Direito de Coimbra para, de momento, opinar. Mas registo uma coisa: se um aluno de Direito (ensino público) vale entre 400 a 500 contos, o seu custo real não difere muito do do aluno do ensino privado, onde se paga sensivelmente a mesma coisa por ano. Se no ensino privado essa quantia chega e até possibilita a realização de um lucro (mesmo pagando-se mais a professores, tendo melhores instalações, com papel higiénico e tudo) e no ensino público essa quantia não é suficiente, isso é um outro problema que nos arrastaria para a discussão das deficiências da gestão pública face à gestão privada, coisa que, embora evidente, não podemos agora tratar.
Por fim, porque o texto já vai longo, reparo que Adeodato Pinto resolve acusar a minha ideia (defesa das prescrições) de ser desligada de qualquer noção da realidade das Universidades Portuguesas. Nessa concreta questão não me parece que tenha qualquer razão e fiquei até espantado com a crítica. Mas mais abaixo compreendi que era Adeodato Pinto quem estava desligado da noção da realidade das coisas (de muitas, não só das questões ligadas às Universidades), quando afirma que «as propinas são um preço que se paga por um serviço» (!!!).
Não são, meu caro; as propinas são um terço do preço real do serviço que lhe dão. Devia era, por isso, estar agradecido. Muito agradecido.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.