PROPINAS VI: Fechado o parêntesis, continuemos. Todos os antigos alunos já sentiram isto: estudaram, formaram-se (é indiferente se durante esse tempo andaram em manifestações ou não), lançaram-se no difícil mundo do trabalho, e um dia voltam ao local onde estudaram. Nessa altura encontram velhos amigos, antigos companheiros, tipos porreiríssimos, e, animadamente, embora cansados da semana de trabalho, sentam-se com eles a beber umas cervejas, a atacar uns tremoços, a ouvir as últimas novidades, saber como andam as coisas. Esses velhos amigos, cheios de vida e energia, continuam com os livros debaixo do braço, ainda não foram a exame, ou foram e reprovaram, ou simplesmente resolveram mudar de curso e começar tudo de novo.
Não há antigo aluno que, nessa altura, enquanto paga a conta de todos (porque os antigos colegas ainda não trabalham, não têm dinheiro), não pense na injustiça da vida: ele, coitado, mesmo andando em políticas e tendo-se divertido bastante durante o curso, fê-lo. Com custo, com trabalho. Depois, procurou emprego, viu as portas todas fecharem-se diante dele. Finalmente arranjou uma, velha mas entreaberta, entrou. Aturou patrões incríveis, desfez-se em trabalhos, suou até mais não, fez directas, passou fins-de-semana a fazer relatórios; e tudo por um ordenado de miséria. Mas, mesmo assim, desse ordenado retiraram-lhe grande parte por causa dos impostos. Impostos esses que, repara agora, vão direitinhos para aqueles simpáticos rapazes, sorridentes, que limpam, satisfeitos e regalados, a boca molhada da espuma da cerveja ele lhes está a pagar.
Se não for antes, nessa altura o aluno compreende perfeitamente o disparate da chamada “guerra das propinas” em que participou tão activamente...
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