PROPINAS VII: Só falta responder à grande questão: de quem é a culpa? Não tenho a menor dúvida que os grandes responsáveis se encontram no PS. Como é natural nestas coisas, quando falamos de responsabilidades não podemos contar com o PCP ou com o BE: estes pelam-se por uma manifestaçãozinha, qualquer que seja o motivo. Choram de alegria e saudade, quando vêem os estudantes a berrarem inocentemente que «unidos, jamais serão vencidos» e outras palavras de ordem do antigamente, deleitam-se com a arruaça e, se puderem, juntam-se a eles. É bem certo que isto também acontece com alguns dirigentes do PS, mais excitados, que se atrelam às manifestações dos estudantes ou de quem quer que seja, aos buzinões da ponte e a outras do género. Mas os portugueses habituaram-se a exigir aos socialistas (pelo menos) alguma responsabilidade.
Ora, a justiça das propinas e respectivo pagamento é tal que se justifica plenamente um pacto de regime entre o PS, o PSD e o CDS. O país exige-o. A economia e as finanças também. De igual forma, o respeito pelos contribuintes. E, por fim, exigem-no os próprios estudantes, quanto mais não seja para compreenderem, de uma vez por todas, que alguém anda a trabalhar, alguém se anda a esforçar para que eles possam estudar - e não são só os paizinhos, os velhos, os cotas.
Havendo um acordo entre esses três partidos, os estudantes, mesmo os mais irrequietos, ficariam sem apoio ou reduzidos ao apoio extremista do PCP e do BE (provavelmente também do PND, mas esse não tem assento parlamentar) e, muito provavelmente, estas periódicas manifestações terminariam.
Só que isso não é possível porque os socialistas, sempre ávidos de conquistar qualquer voto a qualquer preço, apoiam-nos, põem-se do lado deles, evitando qualquer confronto. O PS esteve no governo e das primeiras coisas que fez, sem qualquer critério, sem que mudasse o estado dos restantes problemas, foi reduzir as propinas para uns miseráveis seis euros! Isto não é sério! Claro que pode ter captado alguns votos mas não resolveu o problema, não melhorou as condições dos estudantes e do ensino, da acção social escolar, não mudou nada! Deixou tudo na mesma! Acaso tivesse melhorado algo, isso seria apenas mais uma razão para tornar inexplicável a actual luta dos estudantes. Não o tendo feito, não se justifica que agora os apoie.
Ao mesmo tempo, o PS e os estudantes têm o apadrinhamento da Presidência da República, o que é inacreditável. Já Mário Soares, em 1993, se insurgia em defesa dos estudantes contra a (inexistente) violência policial. Agora é Jorge Sampaio que, em silêncio, permite que os alunos se colem a ele recordando o seu passado nas lutas estudantis de 60! O silêncio do Presidente da República é inadmissível e parcial: quando as questões o afectam, ao partido a que pertence, ou quando são inócuas e não provocam qualquer celeuma, lá está ele a desdobrar-se em declarações e entrevistas, algumas até claras e compreensíveis, nada redondas. Nesta questão, em que deveria ser o primeiro a vir a terreiro explicar que assim tem de ser, que as propinas têm fundamento, que não são excessivas; nesta altura em que deveria pacificar as pessoas, cala-se, esconde-se, e deixa que os alunos, como fazia um deles há dias na televisão, o atrelem à sua luta contra as propinas comparando-a às lutas que Jorge Sampaio terá travado em 1960.
Assim, na verdade, quase não vale a pena lutar para construir uma sociedade minimamente justa. Estar o Governo a esforçar-se por mudar as coisas, melhorando-as, reparando os enormes erros da gestão anterior, sob o fogo despropositado da oposição e o assobiar para o lado, o silêncio comprometedor do PR, é das coisas mais me causa admiração na gestão actual. Espero que não perca o rumo.
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