QUANTO VALE UMA IMAGEM?: Na página 60 da Única desta semana vem uma fotografia notável de um senhor chamado Shakh Aivazov. É uma miúda dos seus 4 anos a passear numa rua de Tbilisi, ao longo de uma fileira de soldados alinhados por trás dos seus escudos metálicos.
O tema será conhecido - a inocência da infância contra o aparato da violência. Mas esta fotografia tem uma beleza peculiar, a começar pela qualidade plástica: o blusão vermelho da miúda é a única cor forte, projectando-a para fora do cinzento metalizado dos escudos e das fardas verdes daquela dúzia de soldados. E, depois, a felicidade do instantâneo: eu escrevi que a miúda passeava? Pois não passeia. Caminha, com ar de quem tem um rumo, concentrada na folha amarela que acabou de apanhar no chão, a outra mão aberta como quem fala alto consigo própria. Com ar de quem tem um rumo e sabe que ele está nas folhas dispersas pela rua. Basta segui-las para, num ponto qualquer, chegar ao fim dos soldados. Os soldados acabam, necessariamente. As folhas, não.
Os soldados sorriem por trás dos escudos, olhando para a miúda. Parecem sorrisos distendidos, francos, quase amistosos.
Mas lá está: uma imagem vale o que a gente quiser.
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