TRISTE VILEZA: Uma vez mais, os números: este ano quase 1000 condutores EMBRIAGADOS provocaram acidentes MORTAIS. Manuel João Ramos entende que é necessário polícias menos compreensivos e juízes mais duros. Muito mais duros.
MJR, compagnon de route do Bloco de Esquerda, exige repressão. Agora sabe, MJR, que há comportamentos humanos que não podem ser descodificados à custa da desigualdade, do capitalismo, da diferença de oportunidades, e outras baboseiras. E confia agora na repressão e na autoridade.
A palavra acidente só aparece por acidente. A mortandade provocada por condutores alcoolizados é um incidente: existe uma causa, um nexo e um efeito esperado e evitável. Anos e anos de discurso preventivo e pedagógico resultaram em absolutamente nada, resta-nos a repressão. Nos últimos dois anos, de 14000 condutores que ultrapassaram o limite legal, 600 fizeram-no excessivamente, ou seja, ultrapassaram 1,2 g/l de sangue. Destes 600, só 46 cumpriram pena de prisão efectiva, o que muito indignou MJR.
O optimismo antropológico e a desculpabilização pseudo-sociológica vão por água abaixo, na posição assumida por MJR. Fica por saber em quantos outros comportamentos indecentes para a condição humana, esse mesmo optimismo e essa mesma desculpabilização ainda subsistem.
A repressão e o law enforcement arrepiam sempre os mesmos, que para desqualificar a sua utilização, por vezes particularmente necessária, misturam gente lúcida como MJR com os mais abjectos reaccionários. Como se defendê-la para o assunto em discussão, fosse o mesmo que pretender aplicá-la ao pessoal que deita lixo para o chão ou que usa cabelos compridos.
Compreende-se o incómodo. É penoso para certas almas aceitarem, que o homem, como dizia Freud ( o tardio, o reaccionário) não é aquele ser bonzinho que gostamos de imaginar. E se muitas vezes vale a pedagogia, outras terá de valer a repressão. Aplicar a lei, a quem embriagado, mata uma família que vinha em sentido contrário, é cumprir a lei. Ao contrário de MJR, não tenho a certeza, que ter aplicado penas de prisão efectiva aos restantes 554 condutores que conduziam com uma taxa superior a 1,2 ( crime ), resolveria o problema. Como securitário que sou, pelos vistos mole, preferiria multas muito mais elevadas ( no meu caso pessoal, nos meus tempos de juventude, seria o que teria desejado para mim, por isso sou agora inacapaz de querer ver presos todos os que excedem 1,2 g/l). Mas depois lá vinha a velha questão: os ricos poderiam continuar a conduzir alcoolizados, os pobres não. Assim, parece que só resta o remédio de MJR. Defender isto, fará de MJR, antropólogo de esquerda, um vergonhoso xerife texano?
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