UM CANAL SEPARA O MUNDO: A Micha, leitora sempre atenta dos jornais ingleses, deu-me o início do fio e eu deparei com o seguinte novelo. O Le Monde de ontem noticia que a sua edição de segunda-feira não foi distribuída no Reino-Unido por decisão do Financial Times, que assegura a difusão do jornal francês naquele País. Na edição em causa, o Le Monde narrava (de forma considerada pelo The Guardian como "a model of responsible reporting") os sucessos do escândalo sexual que supostamente envolve o Príncipe Carlos e empolga os britânicos; acontece que já há injunções judiciais que impedem os jornais de Inglaterra e Gales (mas não da Escócia!) de noticiar o caso, decretadas a favor de um dos alegados (peço desculpa a quem não gosta, mas deve ser assim) intervenientes. O FT teve receio de que a reportagem do Le Monde violasse as ditas injunções, tornando-o co-responsável perante a justiça britânica.
O Le Monde noticia também que vários jornais europeus que aludiam aos factos não apareceram nas bancas inglesas no passado sábado (informação que é confirmada pelos próprios: ver, p. ex., o Frankfurter Allgemeine e o La Repubblica).
Independentemente da questão de saber se a lei de imprensa britânica é materialmente adequada, que sentido tem a subsistência actual de medidas deste tipo, quando qualquer cidadão britânico que leia alemão, francês, italiano ou espanhol (mesmo que não sejam assim tantos...) pode aceder à informação on-line?
Um canal separa o Reino Unido do mundo - mas, neste caso, do mundo do real.
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