21 GRAMAS: Decididamente este é o ano de Sean Penn. Em Mystic River compõe um personagem ambíguo, central no clima de fio da navalha que percorre toda a película. Em 21 Grams, um filme que muito deve ao extraordinário e apaixonado desempenho dos actores, é um dos membros do trio, com Benicio del Toro e Naomi Watts, que proporciona alguns dos melhores momentos da arte de representar dos últimos anos.
Do realizador argentino Alejandro González Iñarritu, 21 Grams é muito pesado emocionalmente. Nada nas duas horas do filme é leve ou frívolo: três personagens com histórias de vida distintas entrecruzam-se tragicamente e deixam-se arrastar alienadamente pelo seu destino macabro até ao limite. Assim se constrói uma história de força perante o infortúnio, de desespero e reacção, de inesperada recuperação pela via da violência, da vingança e do ressentimento. É um filme sobre a possibilidade de redenção, mas de discurso e base anti-moralistas (uma espécie de tortuosa versão cinematográfica da máxima cristã: "estranhos e insondáveis são os caminhos do Senhor").
Um argumento duro e "feio", filmado de forma talentosamente crua e suja, transformou este filme, aparentemente condenado a passar despercebido, na grande sensação do final de ano cinéfilo americano. Muito graças ao brilhantismo do trio-maravilha que dá corpo a um argumento poderoso. Provavelmente esta história não era filmável sem actores com desempenhos de primeira água.
Dizem que perdemos 21 gramas no preciso momento em que morremos. Descansem que não perderão peso durante o filme. Apesar do vento de morte que, durante quatro quintos do tempo, o atravessa, 21 Grams acaba por ser um belo e exaltante hino à Vida.
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