BROTHERS IN ARMS II: Um nosso leitor fiel, João Paulo Pedrosa, intriga-se com esta classificação e pergunta se não existe esquerda civilizada não-radical. Existe, e provavelmente incluo-me nela. Esta classificação, como outras, é um produto de comunicação, que habita mais a blague do que a ciência política. A blogosfera permite aqui e ali um outro texto mais denso, mas obriga também amíude a um registo simplificado, irónico e subterrâneo. O que quis dizer foi que a captura de um produtor de terror no espaço exo-ocidental só filosoficamente nos deve satisfazer. Esse terror, como o cubano, só nos chega depurado e domesticado, é longínquo no conteúdo e na forma. Assim se entende, ou não, o desprezo a que muitos paladinos dos oprimidos sempre votaram o sofrimento dos povos da cortina de ferro ao longo de quase meio-século. A nova esquerda, mais ou menos radical, do Bloco, do PS, e até de algum PCP, já não se importa se são americanos ou marcianos quem jugula um ogre como Saddam. Outros, que classifiquei como esclerosados, condoem-se da vida difícil dos operários, dos gays, dos sem-abrigo, dos camponeses de Chiappas, mas estão-se nas tintas para quem é libertado pelo Ocidente capitalista. Porque de facto nunca tiveram pena nenhuma do oprimido ou do explorado, a menos que este o seja na velha lógica do conflito novecentista entre capital e trabalhador. Por isso marcharam em novos, espiritualmente, com os Guardas Vermelhos ou com Pol-Pot, por isso nunca escreveram poemas ou canções de intervenção para os desgraçados que morreram às mãos da Stasi ou da KGB.
Diz-me o NMP que é gente que acredita em velhos esquemas proto-mentais de pensamento político. O NMP é amável. É gente que acredita que a opressão e a exploração pode ser boa ou má consoante o lado de que vem a vaga. É gente que aprendeu a insensibilidade com bons mestres, e que hoje a exibe despudoradamente.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.