ENTENDAMO-NOS: O facto do Senhor Bispo do Porto ter dito, em entrevista ao Expresso, que era “contra a penalização” das pessoas que abortam tem muito que se lhe diga. O que me vem imediatamente à ideia é dizer mal do Bispo, que tem responsabilidades várias e sérias e que devia ter extremo cuidado com o que diz para que as suas palavras não se tornassem grandes parangonas nos jornais, completamente deturpadas.
Não vou fazer isso; mas como o Senhor Bispo não teve o cuidado suficiente, alerto as pessoas para repararem no seguinte: nem a Igreja nem qualquer um de nós condena o que quer que seja (a Igreja, por definição e culto, tudo perdoa e a todos - já vai longe a ideia do Deus castigador - e nós, nós, pobres humanos cheios de vícios, a ninguém podemos condenar dado que nenhum de nós pode lançar a primeira pedra). Admitindo isto, todos nós somos contra a “penalização” do que quer que seja. Acontece que a penalização não é uma coisa da Igreja mas sim da Sociedade organizada. À Igreja compete dizer o que é o Bem e o que é o Mal (é isto que é mal compreendido pelas pessoas, principalmente por aquelas que não querem que lhes seja dito que a sua vida está Mal, coisa que ninguém gosta mas alguns suportam, entendendo a fraqueza como defeito, e outros não suportam, porque não suportam ter fraquezas ou defeitos ou não querem que os mesmos lhes sejam apontados).
Ora, como é bom de ver, ninguém pode considerar o aborto como uma coisa boa. Inevitável, talvez; possível, é evidente; legal, basta haver norma que o possibilite; mas até os seus defensores consideram o aborto como algo que causa traumas a quem o faz (o que só pode acontecer por ser algo contra a natureza das coisas, se o aborto fosse a coisa mais natural do mundo nenhum trauma causaria).
Acontece que o Senhor Bispo disse: “sou contra a penalização, mas defendo como solução única a criação de condições sociais para que as famílias possam criar os seus filhos (...)”. Isto foi entendido e divulgado pelo jornal quase como uma defesa do aborto, coisa que nunca se poderia assim compreender, embora se compreenda a intenção do jornal.
Entendamo-nos, então: uma coisa é querer penalizar quem pratica o aborto (distinga-se disto toda a actividade ilegal aliada ao assunto, que merece – e bem – justa e severa punição), outra bem diferente é dizer se a prática do aborto é um Bem ou um Mal. Esta parte diz respeito à natureza, à moral, naturalmente à Igreja.
Pois eu tenho para mim como certo que quando o Senhor Bispo do Porto disse o que disse sobre a penalização do aborto (mesmo no meio das mais diversas coisas que disse e que me abstenho de comentar) nunca quis dizer que o aborto era “um Bem”.
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