NATAL: Por esta hora imagino que já tenhamos tudo pronto.
Já se ateou uma poderosa lareira e já se começaram a tirar as rolhas a umas quantas garrafas de vinho tinto (Quinta do Vallado, Reserva, 2000, pareceu-me bem), por forma a que respire profundamente e se aqueça ligeiramente, nas proximidades do fogo.
As lembranças e os presentes das crianças estão todos comprados («é preciso ainda ir buscá-los ao carro!...») e a pequenada, numa excitação medonha, corre em todas as direcções em gritaria ensurdecedora. Convém esconder-lhes as rabanadas, que se banham regaladamente em abundante calda, os chocolates, os pinhões, o nogat e o ananás, que esperam já alinhados o momento próprio de tirar a boca de lacaio.
Ao lado da sopa fumegante, o bacalhau (criteriosamente escolhido, de lombo alvo e imponentemente alto) coze sozinho, enquanto espera a reconfortante companhia das couves, batatas, cebolas e ovos.
Após aturada escolha, optou-se pelo azeite Romeu (em equipe que ganha não se mexe). Quanto aos vinagres, será à escolha entre o Moura Alves (claro) e o de vinho do Porto, de Augusto Leite (excelente).
O serra continua a babar-se («e já alguém roubou um bocado!...»), ao lado de um paio de lombo fumado de Ponte Lima, finamente cortado, e da cesta do pão, devidamente coberta para que não seque.
Parece que não nos esquecemos de nada, pensamos enquanto sacamos a última das rolhas (agora a um LBV de 75 da Noval, engarrafado em 81 – período revolucionário, bem sei, mas pode ser que seja um bom néctar).
Não nos esquecemos de nada. Mas isso só será realmente verdade se nos lembrarmos de que o que se está a comemorar, hoje, não é um qualquer aniversário de um velhote simpático, de barbas brancas e nariz vermelho, criado por uma multinacional de refrigerantes.
O que se comemora hoje é o nascimento de Jesus Cristo ou, por outras palavras, a vinda à terra do Filho de Deus, Ele próprio igualmente Deus. E, mesmo para quem não creia nisto, comemora-se a sua Mensagem e a Palavra que nos deixou: qualquer que seja o prisma ou ponto de vista pelo qual se observe, essa Mensagem é indiscutivelmente boa.
Santo Natal a todos, é o desejo deste velho lobo do mar.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.