SEMPRE ÁS ORDENS: Os nossos amigos Cegos, Mudos e Surdos (link indisponível APENAS por motivos técnicos) acham que eu brinco. Aproveitando o raciocínio que defende que os EUA se deveriam sentar no banco dos réus com Saddam, por o terem armado, escrevi aqui que pela mesma lógica, os Aliados e a URSS também deveriam ter sentado o rabinho em Nuremberga. A lógica é estúpida, sem dúvida. As premissas nem tanto.
Desde os acordos de Locarno que se preparava a saída da França do Ruhr, e muito mais tarde, em 1936, Anthony Eden não quis defender a Renânia. Assim, aconselhou os franceses a ficarem quietos. Gamelin já estava quedo e mudo, ao contrário dos panfletistas da direita monárquica do Action Francaise, que lançaram o mot d'ordre: "Não marcharemos contra Hitler ao lado dos Soviéticos!". Resultado: 80% do carvão essencial ao rearmamento nazi provieram do Ruhr e da Renânia.
Logo depois, mal chega ao poder, Chamberlain põe em acção, em Abril de 1937, a política de "apaziguamento económico", que Hitler agradece, pois que lhe permite descaradamente importar o que precisa para se armar. Como se não bastasse, o pacto Ribbentrop-Molotov fornecerá até à invasão nazi de Junho de 1941, quantidades incalculáveis de matérias primas imprescindíveis ao esforço de guerra do Reich. Para o cozinhado se completar, a Checoslováquia: Chamberlain vai a Munique resolver a crise checa, o que tem como resultado Hitler ocupar seis meses depois o que faltava do território apropriando-se da excelente indústria checa de armamento. O Panzerkampfwagen 38(t), por exemplo, era nada mais nada menos do que o tanque checo LT-38. O Bayerische Flugzengwerke 109, mais conhecido por Messerschmitt 109, foi fabricado em regime de sub-contratação nos territórios de Leste, e montado sob licença pela Dornier-Werke e pela Avia, checa.
Já nem seria necessário falar do papel essencial desempenhado pela Dehomag, filial alemã da IBM norte-americana, não só no cadastro dos judeus, mas também no esforço industrial de guerra nazi, porque neste caso, tratou-se apenas de uma importante empresa privada, e não da responsabilidade de um Estado.
França e Inglaterra não armaram directamente o Reich, a URSS quase. Mas o importante foi a responsabilidade deste países pela facilidade com que Hitler obteve o que necessitou para preparar a guerra. E essa responsabilidade incluiu muita Realpolitik, como o fechar de olhos à expedição de Mussolini sobre a Abíssinia, em Outubro de 1935, numa altura em que se julgava que a Itália fascista poderia ser útil contra o Reich. Suficiente para se sentarem em Nuremberga? Os meus amigos que respondam.
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