COLD MOUNTAIN: O mais nomeado filme para os Globos de Ouro e um dos principais candidatos aos Óscares deixa impressões contraditórias. Baseado no romance homónimo de Charles Frazier, este filme épico tem como pano de fundo a história do retorno a casa e à sua fiel e dedicada amada (Nicole Kidman) de um desertor da Guerra Civil americana (Jude Law). As peripécias desta clandestina e perigosa fuga são intervaladas pela descrição da dura vida dos que, ficando, se agarram desesperadamente às memórias e ao amor numa luta quotidiana pela sobrevivência e por uma vida normal.
Cold Mountain é servido por excelentes actores - Nicole Kidman tem uma prestação verdadeiramente arrebatadora que a confirma como a melhor actriz da actualidade, Renée Zellwegger demonstra a sua versatilidade e Jude Law é intenso e contido. Anthony Minghella (O Paciente Inglês entre outros) tem notório talento para escrever e realizar épicos.
No entanto, o filme deixa uma sensação contraditória. As duas linhas da narrativa são tão contrastantes, que por vezes o filme parece que pára quando não se está a descrever a fuga, aproximando-se perigosamente do registo tipo "xaropada" (o filme é bastante comprido - 2 horas e 35 minutos - e num ou noutro momento isso nota-se, o que nao é nada bom sinal).
A impressiva caracterização das agruras da guerra na rectaguarda, o papel do amor como única fonte de força e coragem, bem como o realismo de algumas cenas de batalhas são o melhor do filme. Porque de resto perpassa a todo o momento uma impressão fatal para uma obra deste tipo: a de que foi filmado e montado com imensa competência técnica e formal, mas com pouca emoção. O filme parece emocionalmente desligado do destino dos personagens. Tal torna-se especialmente notório nas cenas finais e epílogo que, tendo em conta o que vinha de trás, talvez pudessem ser mais intensos (esta opinião certamente não será consensual, pode ser fruto do esgotamento emocional do espectador nesta altura da obra, o que pode não ser atribuível exclusivamente ao filme).
Ficamos no final com uma irritante dúvida: assistimos a um E tudo o vento levou de segunda ou a uma obra-prima sobre o sofrimento que a guerra provoca e a salvação que só o amor puro, dedicado e fiel permite ?
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