THE COMEBACK LADY: A cartada secreta de John Kerry dormia ao seu lado. Chama-se Teresa Heinz Kerry e é portuguesa de nascimento (em Moçambique). Hoje em dia mantem apenas as nacionalidades moçambicanas e americanas: nos EUA é proibido ter mais de duas nacionalidades e a senhora deixou cair a portuguesa. Há quem diga que tem uma relação complicada com o seu passado luso (a sua família foi vítima dos disparates da descolonização).
Há um mês Kerry parecia estar morto politicamente. Arrastava-se pela campanha e aparecia no fim de quase todas as sondagens. Entre outras coisas, a entrada em força da sua mulher na campanha, fruto uma nova direcção de campanha, alterou os dados. Kerry passou a aparecer mais descontraído, a comunicar melhor pessoalmente com os eleitores e a discursar de forma simples, com ideias e slogans muito fortes (as multidões de apoiantes deliram e repetem entusiasticamente a sua expressão bring it on, quando desafia Bush a trazer o assunto da segurança nacional para o centro do debate eleitoral).
Muito desta nova dinâmica, uma mistura de suavização de imagem com endurecimento e aumento da eficácia do discurso, deve-se à presença da sua mulher.
Teresa Heinz Kerry é uma profissional prestigiada. Gere eficientemente uma enorme actividade filantrópica, centrada principalmente na Pennsylvania, construída com base na fortuna do seu primeiro marido, o senador republicano John Heinz (da família das mostardas com o mesmo nome). Tem uma imagem independente - durante muito tempo os assessores de Kerry tiveram medo de a deixar fazer campanha, dado ser incontrolável e dizer muito frontalmente o que pensa, nem sempre de forma politicamente correcta. A sua naturalidade, espontaneidade e força serena acabaram por se revelar grandes activos da campanha. Diz-se que, no New Hampshire, o seu domínio do português lhe serviu para conquistar a comunidade luso-americana, que é muito numerosa na Nova Inglaterra.
Kerry esteve muito mal, mas ressuscitou. Este é o tipo de história que os americanos adoram: o homem que superou o infortúnio, que se redimiu e agarrou, à custa do seu talento e esforço, uma segunda oportunidade. Todos os candidatos se esforçam por ser rotulados como comeback kids (o epíteto que Clinton se auto-atribuíu em 1992, depois de por três vezes ser dado como morto e três vezes virar o destino a seu favor).
Se esta ideia se firmar no imaginário colectivo americano, Kerry pode tornar-se num candidato temível.
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