ESQUERDA, DIREITA, VOLVER: Quando cumpri o serviço militar (julgo ter sido o único desta nau a servir a Pátria neste domínio), causava grandes dores de cabeça ao sargento do meu pelotão, porque confundia muitas vezes a orientação. O sargento Santos insultava-me, porque eu volvia à esquerda quando devia volver à direita e vice-versa.
Vem esta reminiscência a propósito da nota do FN do País Relativo (link só na coluna respectiva por nabice do meu Mac), na qual diz que "a direita se indignou" com os cartazes anti-Santana do PS. Caro FN, não sei se a direita se indignou ou não, mas a julgar pelo post do meu companheiro PC, a esquerda não achou piada, pelo menos ao "Socorro! Estou a ser assaltada".
Mas a coisa tem mais osso. A segurança não é de esquerda nem de direita, se bem percebi o FN e o PC. Acrescento que a deriva securitária, também não. A esquerda experimental, do Leste europeu da segunda metade do século XX à Cuba de hoje, provou-o inequívocamente. Sendo assim, julgo que o que o PC pretende dizer no seu post, é que a direita verte um discurso alarmista e demagógico sobre a segurança e a criminalidade, no mundo ocidental e civilizado. Históricamente isto corresponderá à ignorância e ao desprezo a que a direita vota as causas quase exclusivas da criminalidade, a saber a "desigualdade", e a "exclusão social", sub-produtos do "sistema capitalista".
Se entender que esta visão resulta de um irreprimível optimismo antropológico ( "a sociedade é que faz o criminoso"), é ser de direita, pois que o meu caro PC e o FN me arrumem nessa palhota. Se pensar que correr poucos riscos de ser navalhado numa viela, ou preso em casa às 5h da manhã por uma qualquer PIDE/KGB é condição essencial para se viver justa e livremente, é ser de direita, idem aspas.
No entanto, reconheço que o discurso demagógico sobre a segurança que no Ocidente é utilizado pela direita, é igualmente um atentado à liberdade e á justiça. Porque induz nos cidadãos a ideia que a segurança das suas vidas e dos seus haveres depende exclusivamente do chicote e da grilheta. E ao nisso acreditarem, abdicam perigosamente de participar na construção do espaço político e social. Logro que como sabemos, resulta na repetição desenfreada do chicote e da grilheta, que qual coito interrompido, nunca chega a produzir verdadeiramente nada. A ilusão de um discurso securitário corresponde ao descer do chicote sobre os pequenos refugas da cave, deixando incólumes os patrões da penthouse. Se com isto me arrumarem na esquerda, pois nessa palhota me quedarei. Assim como assim, não me fazem mais mossa que o sargento Santos.
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