JORGE SAMPAIO: Existe, no Mar Salgado, uma forte tendência anti-Jorge Sampaio, desde sempre liderada por Neptuno (onde o caso assume já dimensões quase pessoais) e, nos últimos dias, incrementada pelo FNV e pelo VLX. Dir-se-á que o facto é normal num blogue maioritariamente de direita, que certamente não engrossou o número de votantes de Sampaio nas duas eleições presidenciais precedentes. Será normal. Mas, ainda assim, a coisa irrita-me levemente, na mesma leve proporção em que apoiei a candidatura de Sampaio. Isto porque a esmagadora maioria das críticas que aqui lhe dirigem são injustas e tendenciosas. Os comentários sobre as cartas anónimas não podem, por isso, ser desligados desse contexto de animosidade.
Porém, a última intervenção pública de Sampaio no processo Casa Pia foi, efectivamente, um acto errado. Trata-se de um discurso contraditório e desarticulado, preocupado em afirmar que o essencial e decisivo não é a única mensagem substantiva que, de facto, se transmite. Dizer que "decisivo para o Estado de Direito e para a enorme dívida que a comunidade tem para com as crianças da Casa Pia, é, sim, que sejam criadas, de imediato, condições para que a acusação já proferida e as provas que a acompanhem possam vir a ser apreciadas por aquilo que elas valham - repito, por aquilo que elas valham -, e não pelos erros procedimentais, sejam da Acusação, sejam da Defesa, ou mesmo de magistrados judiciais" é uma banalidade sem fim; o apelo veemente "ao sentido de cidadania dos profissionais da comunicação social e dos agentes da Justiça, para que passem a actuar com a maior contenção e a maior reserva, no estrito limite do dever de informar e de dar informação, e assim contribuam para que os tribunais possam fazer aquilo que só a eles compete - administrar Justiça" é, apesar de justo, um voto esgotado pela repetição, que não justifica uma intervenção autónoma do Chefe de Estado.
Assim, e ao contrário do que afirma o meu querido Amigo VLX, o discurso do PR só é substantivo, infelizmente, nas entrelinhas. Na defesa da honra do cidadão Jorge Sampaio que, negando fazer, faz. Na defesa do prestígio do Presidente da República que, negando fazer, faz. Na crítica ao funcionamento das magistraturas que, negando fazer, faz.
Perante os factos de todos conhecidos, o PR perdeu uma oportunidade de ouro para dar o exemplo da serenidade e da correcção institucional a que tanto incita os outros: podia e devia ter emitido uma nota - não era necessária uma comunicação solene: que meios usará para declarar o estado de sítio? - onde dissesse aos portugueses: "Tomei conhecimento de que o meu nome foi envolvido num processo-crime em curso. Porque entendo que as notícias divulgadas põem em causa o prestígio e o respeito devido ao Chefe de Estado, comuniquei o facto ao Sr. Procurador Geral da República para que tome as providências que houver por legalmente adequadas".
E hoje estaríamos todos, muito saudavelmente, a reflectir sobre a actuação e a competência técnica do PGR.
PS: Estou certo de que os meus caros companheiros de embarcação mostrariam a mesma agudeza crítica que evidenciaram nos seus comentários se o discurso em causa tivesse sido proferido por um PR por eles eleito.
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