A MADAME DE ROISSY: Já não se trata da lição de francês arcaico que o meu amigo P.C. me deu, mas de outra, infelizmente menos graciosa. Depois do desastre do avião egípcio, uma senhora francesa estava sózinha nas chegadas internacionais. Tinha 70 anos e esperava toda a sua família, sete pessoas, que deveriam ter chegado, mas não chegaram. De repente, tornou-se a única pessoa viva da família.
Situações destas levam ao limite a ajuda e o aconselhamento terapêutico, e recordam-me sempre a história do último judeu sobrevivente do massacre de Plock, que reza a lenda, era mudo. O que se diz, o que se faz (exceptuando a inevitável admnistração de fármacos), com a Madame de Roissy? Quando e se eu for velho, os meus filhos e netos representarm, para além da teia de afectos, o meu horizonte temporal: viverei através deles, viverei deles. Por outro lado, como na senectude de Catão, a velhice iludir-me-à: já passei o pior, tudo o que virá, virá por acréscimo.
Esta Madame de Roissy, abruptamente, descobre uma traição perpetrada pela sua biografia. Descobre que nunca estamos seguros (por isso insisto, Séneca tinha razão: só podemos estar seguros do nosso passado), que somos substancialmente frágeis. Tão frágeis e inseguros quanto mais construimos com os outros.
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