A MORTE não se aproxima de trombeta, diz-nos um provérbio dinamarquês. Esta brutal imprevisibilidade força-nos o confronto cru, olhos nos olhos, com a nossa frágil e precária condição.
Quem passe por uma situação de perda brusca de alguém próximo ou querido, nunca mais é o mesmo. A vida, o tempo, as coisas mais comezinhas ganham perspectiva e profundidade. A morte passa a estar presente em todos os momentos - vigilante, companheira.
Para uns, o tempo começa a voar, parece escapar-se velozmente entre as suas mãos. Para outros, a vida torna-se lenta, insuportavelmente previsível, vazia e vagarosa. Á medida que a ferida sara, ganhamos uma nova noção de normalidade. Que será, inevitavelmente, tão efémera como a anterior.
A morte faz parte da vida, dizemo-nos como consolo. Mas interiorizá-lo é o mais duro e doloroso exercício que, neste mundo, seremos todos forçados a enfrentar. É a experiência mais transformadora por que podemos passar.
A morte será certamente a curva na estrada de Pessoa. E talvez não tenha mais segredos a revelar-nos do que a vida, como escreveu Flaubert. Ainda assim, continua a soar-nos como injusta, estúpida. Choca-nos e deixa-nos incrédulos.
Desde há muito, penso na morte e na forma de lhe reagir como um recomeço. O contador a zero. O tiro de partida para uma nova etapa.
Até ao dia em que seremos nós a premir o gatilho.
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