O RALO: No caso da pia tudo o que se tem dito num momento tem sido atirado no momento seguinte, pelos próprios declarantes, para o ralo. Apela-se à serenidade e de seguida descontrolamo-nos. Faz-se votos de silêncio para depois nos lançarmos numa espiral de declarações e comentários descabidos. Fazem-se declarações de confiança na Justiça que precedem levantamentos de suspeitas sobre os seus agentes e o sistema judiciário.
Não tenho comentado o processo da Casa Pia porque ele tem vindo a confirmar aquilo que desde o início suspeitei e aqui expressei: tudo o que se torna público neste processo é apenas puramente instrumental, com intenções manipuladoras, algumas complementares, outras conflituantes entre si. E eu não quero colaborar nisso - mesmo comentários de boa fé são apenas fruto de um conhecimento da realidade e dos factos peneirado por esta cacofonia e manipulada informação.
É óbvio que a divulgação pública selectiva de nomes apenas ligados ao PS tem como intenção descredibilizar o processo. Ninguém de bom senso acredita que os potenciais tarados se concentraram todos num lado do espectro político. E a inclusão, por exemplo, do nome do Presidente da República e do comissário europeu entre outros é apenas ridícula e disparatada (e como tal devia ter sido tratada).
Lá chegará a hora em que outros nomes, de outras áreas políticas, surgirão. Os manipuladores (os de agora ou outros) e a turba, irmanados neste deprimente espectáculo de voyeurismo e cobardia delatora e insultuosa, manifestarão a sua hipócrita indignação sobre essas novas revelações. Uns jurarão que se manterão em silêncio para permitir o trabalho dos tribunais, outros descobrirão um novo combate das suas vidas. A TVI (ou quem sabe outro canal qualquer) fará novas caixas, venderá mais publicidade, produzirá mais telejornais terceiro-mundistas de duas horas. E no final, tenho as maiores dúvidas de que estaremos mais próximos de apurar o que realmente se passou com as crianças da Casa Pia que foram violentadas ao longo de anos.
E então, como agora, manteremos o mesmo silêncio, num misto de pudor e de vergonha, de quem não tem nada a acrescentar de relevante ao muito (demasiado) que se comenta.
Como escreveu há uns tempos a clarividente Charlotte este é um daquele momentos em que todos falam, mas ninguém parece querer dizer o pouco que importa.
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