ASSOCIAÇÃO DE IDEIAS: O fenómeno Dean teve uma dimensão interessante. O seu esquema de angariação de fundos através da Internet poderá a prazo alterar significativamente as campanhas nos Estados Unidos. Dean era o candidato democrata com mais dinheiro, resultado de pequenas contribuições via Internet. O que lhe permitirá, mesmo com resultados decepcionantes, manter-se mais um tempo na campanha. Um candidato com uma mensagem mais moderada e uma personalidade mais atraente poderia certamente chegar mais longe. Livre de lobbies, do poder de sindicatos e de outros grupos corporativos. Desta experiência há, no entanto, algumas lições a retirar.
Primeiro, o impacto no mundo virtual está longe de ter a mesma tradução no mundo real. Isto deveria fazer pensar alguns que, na blogosfera, tiram definitivas ilações políticas, constroem e destroiem coligações e julgam conseguir tomar o pulso á sociedade, afirmando que a esquerda ou a direita estão em forma.
Segundo, não chega conseguir obter receitas e fundos. É preciso saber gerir fundos (pelo menos ter uma vaga ideia). Dean angariou cerca de 42 milhões de dólares. Recusou o sistema de limite de fundos, para não ter as mãos atadas. E depois, estoirou 40 milhões no Iowa e New Hampshire, onde obteve resultados decepcionantes. Arrasta-se agora pelo resto da América, sem anúncios televisivos, à beira da bancarrota e fazendo apelos lancinantes a mais contribuições. Isto leva-nos à última e talvez mais ousada reflexão.
Dean era o candidato idolatrado pela esquerda blogosférica (do Barnabé e dos nossos amigos relativos, só para citar estes). Revelou-se afinal um estróina financeiro. Incapaz de gerir (ou mandar gerir) racional e eficientemente os recursos ao seu dispôr. Parece que o raciocínio imperante na campanha era "o que é isso do dinheiro perante a grandeza da nossa causa ?". É díficil que alguém agora o leve a sério quando fala do défice orçamental de Bush (um problema económico preocupante).
Ao acompanhar uma amigável polémica entre Vital Moreira (um caso raro de sensatez financeira na esquerda lusa) e Filipe Nunes quase ao mesmo tempo que assistia ao descalabro financeiro da campanha de Dean, ocorreu-me uma associação de ideias (arriscada, é certo, como todas as associações de ideias).
Habituado que estou, por defeito profissional, a tentar encontrar padrões, interpretar modelos, pergunto-me se não estaremos perante um padrão de comportamento da esquerda à escala global. Claro que esta ousada hipótese carece de mais dados, de testes, de estudos ulteriores e aturados para posterior confirmação ou revogação. Mas fica a pergunta. Qual hipótese científica. Sujeita a estudo e observação.
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