CASE STUDY: Há umas semanas atrás adiantei uma vintena de nomes de políticos (alguns de pessoas que estão entre nós e em cargos importantes) e que apenas tinham duas coisas em comum: eram personalidades fora do vulgar e de uma forma ou de outra tinham exercido cargos políticos no regime anterior.
De imediato choveram insultos da mais variada ordem e críticas vieram de pessoas que sabia (e sei) serem admiradoras de muitos dos nomes ali indicados. Fiquei estupefacto mas o motivo era simples: foi por ter incluído o nome de Caetano e Salazar. Que diabo! Salazar morreu há quase 40 anos; o regime desmoronou-se há 30! Será possível que passados estes anos todos não se possa falar normalmente daquelas pessoas e do regime que vivemos sem que se seja insultado? Poder-se-á falar da História portuguesa sem se ser vaiado? Afinal de contas, independentemente da política e até da sua personalidade, Marcello Caetano era ou não um cientista brilhante, um jurista insigne? Não se poderá ainda falar desta gente sem ser com emoções fortes, ódios e paixões inflamadas? - Tinha de tirar a prova dos nove e isso foi-me quase de imediato possibilitado por mais uma trica entre Mário Soares e o CDS, sobre extrema direita e descolonização.
O ESTUDO: Foi fácil fazer um texto sobre o assunto e deixá-lo resvalar para o anterior regime, suscitando assim mais reacções e, como eu esperava, emoções. Ou, mais propriamente, reacções extremamente emotivas, inflamadas e apaixonadas a que comodamente instalado assisti.
A grande maioria das reacções recorreu, como previa, ao insulto fácil e gratuito, próprio daqueles que não têm argumentos: dessas não vale a pena falar a não ser para constatar, divertido, que a grande maioria veio de adeptos de um dos regimes mais totalitários e ditatorias de que há memória, a URSS.
Mas tive também reacções superiores e distanciadas, bastante interessantes, outras sérias mas bastante emotivas e, por isso, perdendo alguma objectividade, embora não menos interessantes.
No primeiro caso está desde logo a reacção de FNV. Reacção séria e desapaixonada. Preocupantemente séria porque de tão pouco emotiva e tão bem documentada estragava-me de imediato o exercício. Preferi não ligar, deixar cair a mensagem dele no esquecimento. Felizmente logo a seguir veio uma do Comandante e respondi a essa remetendo o assunto para o patamar onde eu o queria (estar a responder a um pensando no outro originou um lapso prontamente corrigido e um episódio divertido cá dentro da nau, mas isso são contas de outro rosário). Recebi ainda de leitores atentos várias mensagens extremamente interessantes e possibilitadoras de uma discussão séria e elevada sobre o assunto (a quem conto responder rapidamente e a quem desde já agradeço o interesse manifestado no assunto e a forma civilizada como o trataram). Nenhum deles, claro, concordava com o que tinha sido escrito mas colocava os termos da discussão num patamar onde era possível discutir com agrado. (cont.)
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