CASE STUDY: O ESTUDO III: De entre estas destaco as dos meus colegas TRM e PC, pessoas brilhantes, cultas e inteligentes. Na verdade só a emoção pode justificar que pessoas assim venham, ao lhes ser falado em "colonização", referir-se ao "Tarrafal". Não faz sentido a referência porque Tarrafal existia por causa do regime, não por causa das colónias ou do processo de colonização (iniciado muito antes do regime existir). Outros países colonialistas podiam ou não ter coisa semelhante, sendo ou não democracias. Por outras palavras, o Tarrafal não tem directamente a ver com o facto do país ter sido colonialista: tem a ver com o regime que tínhamos. Não se deve ao colonialismo, deve-se à política.
Coisa semelhante se pode dizer do episódio dos «pauliteiros de Miranda» relatado por PC: numa altura em que não havia propriamente liberdade de circulação na Europa, o facto de se fazer passar pessoas pela fronteira sem ser pelas alfândegas era naturalmente proibido, mas como PC sabe melhor do que ninguém - isso era um caso da polícia criminal e não da polícia política. Fazer passar pessoas pela fronteira tanto era proibido entre Espanha e Portugal como entre França e Bélgica, na altura democracias (isto, claro, sem pretender desvalorizar o esforço moral daqueles que protegiam os refugiados). Daí que PC tenha trazido à discussão algo que não tinha propriamente a ver com o que queria criticar (as perseguições políticas do regime, que todos sabemos terem existido), o que, numa pessoa brilhante como é PC, só se pode justificar por se ter deixado cegar pela emoção dos que lhe eram próximos.
Ainda de entre pessoas por quem tenho consideração, Vital Moreira, do Causa Nossa, gozou com o trecho propalada falta de liberdade, embora retirando-o do contexto em que se inseria e que pretendia apenas dizer que, ao contrário do que muitas vezes ouvimos, a generalidade dos portugueses não vivia preocupada com a falta de liberdade (o que é diferente de dizer que esta não existisse, como concordará comigo. Podemos ainda, como fez PC, apontar causas para o facto - a manutenção da ignorância é aventada por PC como uma das causas - mas é difícil contrariar aquele facto). Repare-se que argutamente VM não se referiu ao contexto integral (o qual não podia negar) em que aquele trecho aparecia mas apenas a ele. Seja como for, fico feliz por constatar que VM (tal como eu) defende entusiasticamente a democracia, o que só pode resultar de ter «arrecuado» para o PS. (cont.)
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