DESCOLONIZAÇÃO: Há uma coisa na esquerda que me irrita profundamente e que consiste no facto de tentarem divulgar e propagandear que quem critica a descolonização feita pela nossa “democracia de 74” deva ser de imediato considerado como um colonialista ou um defensor da ditadura, qualquer que ela tenha sido. Não é verdade e é até ofensivo.
É indiscutível que a nossa “colonização” foi das melhores do século XX, muito diferente da exploração gratuita feita por muitos outros países, e que a “descolonização” foi das piores. O investimento feito nas ditas colónias na década de sessenta é formidável e aqueles que comodamente criticam porque apenas nessa altura se tenham feito tais investimentos esquecem-se de que 50 anos atrás se estudava a possibilidade de se “venderem” ou “trocarem” as colónias. Ou de que as mesmas eram cobiçadíssimas. Ou ainda de que o país (continente) estava de rastos e completamente desfeiteado pela 1ª República e que necessitava primeiro de se aproximar do patamar europeu antes de tratar das colónias.
Posto isto, tratemos da descolonização. A descolonização foi apressada e desajeitadamente feita na sequência do 25/4 e este foi apresentado à população fundamentalmente como o meio de acabar com a guerra (juntamente com o regime) e com as colónias. Não era unicamente (ou principalmente) uma questão de liberdade (ou falta dela) porque isso não era o que preocupava a classe média e a generalidade de população. A propalada falta de liberdade afligia franjas da população, alguns políticos, o PCP em geral mas não consistia um problema concreto ou diário para a maioria da população: o que a preocupava era a guerra e a ida dos seus filhos para o ultramar. No exterior também, deixemo-nos de hipocrisias: o mundo inteiro estava-se positivamente nas tintas para o facto de termos mais ou menos liberdade interna mas já olhavam com outros olhos para as colónias e para a possibilidade de nos substituírem. Basta ver a pressa com que a URSS pôs a sua pesada pata em Angola e Moçambique ou a Indonésia em Timor.
Daí que a missão primeira dos políticos pós 25/4 (para justificarem o movimento, interna e externamente) terá sido fazer desaparecer rapidamente a guerra e as colónias, sem se preocuparem minimamente com os efeitos nefastos que isso produziria.
E produziu. Por causa da forma abrupta utilizada, a descolonização proporcionou trinta longos anos de sofrimentos nas colónias, guerra civil, massacre de populações, fome, miséria e uns quantos milionários. A vida naqueles países é, hoje, muito pior do que na década de sessenta. A guerra civil angolana produziu um número muito maior de mortes, catástrofes e atrocidades do que a guerra colonial. A miséria é muito maior hoje e isso é consequência directa da descolonização tal como foi feita.
E não se diga que isso era imprevisível pois basta ler alguns textos e discursos dos principais políticos do antigo regime para se ver que contêm premonitoriamente tudo o que se veio a passar nas colónias no pós 25/4 (a pata soviética, o cenário da guerra fria, a guerra civil, a morte e a miséria, etc., etc.). Está lá tudo. Estava tudo previsto.
De forma que é indiscutível que o processo de descolonização foi uma desgraça e que criou inúmeras atrocidades bastante previsíveis. Estas devem-se aos responsáveis da descolonização. Entre estes está, na primeira linha, Mário Soares. Assume-o e já reconheceu o erro. Mas porque carga de água não podemos nós, hoje, qualquer que tenha sido o papel de Mário Soares na História, afirmá-lo também? Dir-se-á que a qualificação de “criminoso” é exagerada e forte. Talvez seja. Mas deveremos nós estar aqui com pruridos e delicadezas com alguém que a cada passo nos apelida injustificadamente de xenófobos ou de extremistas radicais de direita?
Post scriptum: imagino que este post vá provocar "pele de galinha" na esquerda gaiteira, a qual me vai de imediato (como sempre, à falta de argumentos sérios) apelidar de extrema direita, fascista, saudosista ou outros disparates do género. A esses posso desde já dizer que não tenho saudades de regime nenhum, de colónia alguma, que não sou fascista nem de extrema direita, e que sou suficientemente crescidinho para analisar a História de Portugal de forma desapaixonada e séria. E que, uma vez mais o digo, não tenho medo de fantasmas.
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