DESCOLONIZAÇÃO II, ou um reparo civilizado: De facto, caro VLX, aqui há tempos referi esse aspecto da nossa colonização: só depois de 1961 se investiu em força em Angola e em Moçambique. Dizes-me agora que comodamente esqueço (se não era para mim, é como se fosse) a situação que o país vivia na altura. Seria interessante recomendar a leitores mais novos ou distraídos, testemunhos de Spínola (Portugal e o Futuro) ou de Adriano Moreira (O Novíssimo Princípe), ou aspectos parcelares da correspondência entre Marcelo Caetano e Salazar (Cartas Secretas 1932-1968). A ti não te recomendo porque já conheces estes textos, mas outros achariam nestes textos de gente que conheceu a nossa colonização nos anos 40-60, uma boa fonte para a objecção que agora refutas: O Regime pode ter feito uma colonização menos brutal, mas nunca apostou (veja-se a Lei do Indigenato) no desenvolvimento de elites nativas técnicas, docentes, admnistrativas e políticas. Caetano, Ministro das Colónias(44-47) ou Adriano Moreira, Ministro do Ultramar (61-63), cada um à sua maneira, reflectem o receio da Metrópole de libertar do espartilho especulativo a economia ultramarina, ao mesmo tempo que se percebe fácilmente, no que contam e no que escrevem, como tal receio face aos brancos se acoplava a uma descrença e a um desprezo pela remota possibilidade de incluir os negros no seu proprio governo. Com Spínola, descortinamos o alheamento, sobretudo na Guiné, dos povos face ao seu destino. E isso, porque o Regime não conferia aos negros a capacidade de aprenderem, de evoluirem, isso porque adjacente à nossa colonização tardia vigorava ainda um primado de superioridade racial.
E "isso" meu caro VLX, é ter responsabilidade na descolonização que se seguiu. Povos pobres e diminuidos acolhem mais facilmente déspotas e canalhas, de palavra fácil e costas quentes.
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