A ESQUERDA, MÁRIO SOARES E FAMÍLIA, VITORINO E EUROPA: É lugar comum dizer-se que toda a gente sabe que Mário Soares leva a peito as coisas, muito particular e pessoalmente, e que não perdoa quando está irritado com alguém ou alguém lhe pesa. E toda a gente sabe o que pesa a Mário Soares: a cruz que carrega é vermelha, como lhe deve ser irritantemente lembrado todos os dias ao pequeno-almoço e ao deitar. Igualmente verdadeiro é que ninguém ignora que quando lhe faltam argumentos para a discussão MS (como toda a esquerda) parte para o insulto fácil e apelida de “extrema direita”, “fascista” ou “reaccionário” qualquer adversário (ultimamente tem até baixado de nível, apelidando de “bêbedas” as pessoas de quem não gosta).
MS nunca se inibiu de apelidar de extrema direita Sá Carneiro (a quem permitiu ainda que fosse criticado pela sua vida pessoal), o seu actual e inexplicável amigo Freitas do Amaral (por quem - envergonhadamente hoje confesso - estive para apanhar uma valente tareia democrática juntamente com o meu amigo Pedro Miguel Gomes só por estarmos a apoiar com bandeiras uma pessoa “fascista e de extrema direita para a presidência”...), ou mesmo Cavaco Silva e agora Paulo Portas e o CDS em geral.
É público ainda que a esquerda não gosta de perder. Mesmo que seja uma esquerda “às direitas”, como são os democratas nos EUA, ela não gosta de perder (sintomático e emblemático foi a garotice apatetada dos democratas terem retirado dos teclados dos computadores o “W” aquando da última derrota). Em termos nacionais, para exemplificarmos que a esquerda não gosta de perder, temos desde logo o PCP que canta vitória (embora de forma cada vez mais rouca) em cada eleição, António Guterres que fugiu acobardado quando perdeu, João Soares, que ainda não acredita muito na derrota humilhante que sofreu e se perde a discutir o peso dos livros de Santana Lopes, Maria Barroso e António Vitorino.
Com efeito, é quase cómico verificarmos que quando está no poder a esquerda se apressa a meter nos lugares que entende os seus apaniguados; mas quando perde as eleições e o poder dirigente, a mesma esquerda quer inexplicavelmente manter os lugares dos seus lugares-tenentes.
Por isso se incomodam com o afastamento de Maria Barroso. Para a esquerda, não interessa que a direita tenha ganho as eleições e o direito natural e democrático de designar as pessoas de sua confiança para os lugares que entender. A esquerda, laica e republicana, muito estranhamente defende que as pessoas se mantenham eternamente nos lugares (pai no papel de pai, filho no papel do pai, mulher no papel que tinha, qualquer que ele fosse, independentemente do voto do povo).
Como é bom de ver, a Maria Barroso foi-lhe delicadamente apontada a porta de saída; uma vez que não quis sair pelo seu próprio pé como gente civilizada (não obstante nunca nenhum Presidente da Cruz Vermelha ter prosseguido mais do que dois mandatos e a pessoa para esse cargo ser geralmente designada por quem venceu as eleições), teve de se falar mais forte, como geralmente acontece nestas situações. O caso não mereceria grande atenção dado que um dia mais tarde (muito mais tarde, espera-se), num dia em que um qualquer sucessor de Ferro Rodrigues lograsse fazer o povo português esquecer a última governação PS e vencesse as eleições, Maria Barroso poderia voltar às suas funções. Mas como MS deve ser incomodado diariamente com o assunto, nós temos de gramar com a coisa. E como ele não sabe discutir de outra forma, nós temos de ouvir peixeirada.
O facto de a esquerda entender que tem direitos independentemente do voto alcança novos e altíssimos patamares com António Vitorino. Nós sabemos que a esquerda não o quer cá para não fazer frente a Ferro (os socialistas porque querem dobrar o Ferro em lume brando; a restante esquerda para não perder votos para um líder socialista alegadamente de aço, embora isso nunca tenha sido provado). Por motivos que não consigo compreender conseguiram convencer o nosso Primeiro a defender a eleição de Vitorino para Presidente da Comissão Europeia. Porquê, se ele é de família política bem diferente daquela em que os portugueses votaram? Porquê, se é evidente que o PPE não o quer? Porquê, se o PPE não quer cair no mesmo erro de designar pessoa de política diferente? AV até pode ser bom mas não haverá no PSD e no CDS pessoas igualmente competentes? Ou mais?
Isto tudo vai mas é acabar numa grande manifestação do PS a criticar o governo por este não ter conseguido manter Vitorino na Europa, quando era evidente que isso não era possível. Todos sabemos isso. Até porque a esquerda actual só tem servido para isso, para manifestações e gritos de ordem pouco sérios.
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