NÃO Á GUERRA: O The Economist sempre defendeu o direito ao casamento entre homossexuais. Neste brilhante editorial reafirma-o e demonstra como a proposta de George W. Bush de constitucionalizar a sua proibição é disparatada.
Em termos de questão de princípio, não vejo como é que uma medida que leva mais gente a casar (os homossexuais) é considerada uma ameaça para uma das instituições-base da nossa sociedade. Em Portugal estamos ainda muito longe de chegar a este debate - não há pressão nem aparente necessidade social suficiente para ele se fazer. Admito que esta seja mais uma questão para referendo. Que antes de se chegar a admitir o casamento entre homossexuais se deva regulamentar a atribuição de direitos fiscais, da adopção de crianças (com eventuais restrições), e de questões de direito sucessório e patrimonial. Mas já me parece totalmente descabido inserir na Lei Fundamental uma proibição preventiva. Aquilo que hoje choca grande parte dos cidadãos pode perfeitamente amanhã ser encarado de forma mais natural. A instituição-base da nossa sociedade "casamento" tem evoluído e já passou por muitas fases - pelo casamento poligâmico, pelo casamento combinado pelas famílias, pelo casamento indissolúvel perante a Lei e pela fase actual de dimensão contratual, dependente da livre vontade das partes.
Há quem veja neste acto a abertura de uma saudável guerra cultural. Engana-se. Estamos perante um tiro de pólvora seca. O exagero da proposta é apenas uma demonstração de intolerância, de falta de abertura para possíveis evoluções futuras. Bem longe do compassionate conservatism que tanta gente atraiu em 2000. Manda uma concepção liberal do mundo e da vida que não se feche liminarmente a porta a uma futura evolução neste campo. Como muito bem afirma o Economist, é pelo menos tão errado proibir exagerada e extemporaneamente esta possível evolução, como saltar etapas na sua aprovação/imposição.
Além de que do ponto de vista eleitoral é como combater mosquitos à bomba. Apesar de as sondagens indicarem que a maioria dos americanos é contra o casamento gay, esta é uma das suas últimas preocupações, muito atrás da economia, da guerra contra o terrorismo, do défice, do ambiente, da segurança social, etc.. Os únicos eleitores que este disparate irá mobilizar são os que são afectados mais ou menos directamente por ele.
Na minha opinião, ao contrário de outras guerras legitimamente feitas em nome da liberdade e segurança de milhões, esta é uma guerra da qual George Bush se poderá arrepender amargamente.
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