O GENERAL NO SEU LABIRINTO: Em finais do Verão passado, nenhum dos candidatos democratas á Presidência dos Estados Unidos parecia capaz de entusiasmar os eleitores democratas. Howard Dean ia lançado na frente, o que aterrorizava o establishment democrata e a ala mais centrista dos Clinton.
Um movimento surgiu para lançar a candidatura de Wesley Clark. Em pouco tempo o movimento que apenas existia na Internet obteve milhares de adesões. O dinheiro começou a chover. Bill Clinton disse privadamente, mas fez questão que se soubesse, que o Partido Democrata só tinha duas estrelas: Clark e Hillary.
Em Novembro, Clark lançou-se. Mas quando chegou ao terreno, as coisas não começaram a correr muito bem. Primeiro foi o problema do discurso do candidato: tanto afirmava o seu apoio como a sua oposição à intervenção no Iraque (acabou por estabilizar nesta útlima posição. mas justificando-se com questões e nuances tácticas de difícil compreensão pelo eleitorado). O que foi agravado com inúmeros comentários anteriores que Clark tinha feito em jornais e na televisão, umas vezes elogiosos, outras vezes críticos da Administração Bush. Isto foi munição gratuita para os seus oponentes.
Em seguida, Clark fez uma opção táctica arriscada: não participar nos caucuses do Iowa. A decisão parecia racional: a sua candidatura surgiu tarde, não havia tempo para ir a todos os sítios e a sua melhor aposta era em estados mais populosos (o Iowa elege apenas 22 delegados para a convenção democrata). Acontece que a vitória de Kerry no Iowa criou uma onda que lhe valeu ganhar no New Hampshire e ficar muito bem colocado para as 7 primárias da próxima terça-feira.
Clark tem sido prejudicado por alguma inexperiência política - é a primeira vez que se candidata a um cargo. O que se nota nalguns debates e nalguns deslizes: sendo apoiado por vedetas como Madonna e Michael Moore, foi incapaz de contradizer este último, quando ele à sua frente chamou "desertor" a Bush. Votou em Nixon e Reagan, o que dificilmente desperta simpatia junto dos democratas.
No entanto, o seu prestígio, a sua carreira brilhante, a sua história de vida de homem que subiu a pulso têm tudo para atrair os americanos. Clark parece bem colocado para ganhar, no dia 3, o Oklahoma e terá de esperar ter bons resultados noutros estados (sendo sulista, poderá surpreender num ou noutro Estado do Sul). Tem sido prejudicado pelo facto de aparentemente os americanos estarem a votar tanto por motivos internos (o estado da economia e dos serviços sociais) como por causa da segurança e da defesa (a sua área forte). Ainda por cima o andamento das primárias está a colocar mais longe a perspectiva de ser candidato a Vice-Presidente (seria um nome forte para Dean, mas perde utilidade numa candidatura de Kerry, ele também um herói militar).
O general talvez se tenha precipitado. Os mais cínicos dizem que foi empurrado pelos Clinton, que se queriam desembaraçar de um potencial forte adversário de Hillary em 2008. A verdade é que a sua equipa de campanha é quase exclusivamente composta por gente da entourage de Clinton. Se aguentar esta fase, talvez possa ter sucesso em estados mais populosos como a Califórnia ou Nova Iorque.
O currículo de Wes Clark parece perfeito demais para ser verdade: melhor aluno em West Point, comandante supremo da NATO, a paz na Bósnia. De um ponto de vista objectivo, é irracional desperdiçar um homem com esta preparação e capacidade. Mas essa é também uma das belezas da democracia.
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