O SEIO NA POLÍTICA DE AQUÉM E ALÉM MAR: Segundo parece, a CBS desconvidou Janet Jackson da apresentação dos Grammy Awards por ela ter (ou lhe terem) descoberto um seio durante a transmissão da final do Super Bowl (acho que alguém já escreveu aqui sobre a excitação que este evento - entenda-se: o Super Bowl - lhe provoca). A agência competente do Governo americano abriu um rigoroso inquérito acerca do acontecimento que escandalizou tantas famílias tementes a Deus.
Há uns anos atrás, Ilona Staller - vulgo Cicciolina - foi eleita deputada do Parlamento italiano, tendo utilizado como principal arma da campanha a exibição pública de um seio.
Dir-se-ia que esta disparidade simboliza toda a diferença das representações sociais do Velho e do Novo Mundo. Mas as coisas são um pouco mais complexas. De Cicciolina, conhecida estrela porno, esperava-se que mostrasse o seio; de Janet Jackson, espera-se que cante qualquer coisa adolescencial que tenha love (without sex) no título. Sobretudo num tempo e num lugar onde o puritanismo em matéria sexual volta a ganhar uma força inusitada (já atravessou o Atlântico, está à porta da nossa Assembleia da República, mas isso é assunto para outro post).
A diferença não está aí, portanto. A diferença está em que as famílias italianas e as suas crianças conviveram diariamente com o seio de Cicciolina a entrar-lhes pela sala de jantar à hora das refeições. Elegeram-na deputada (embora dando razão ao princípio de Peter) e não consta que, subitamente, se tenham tornado numa nação de pervertidos. A diferença está em que uma candidata a um cargo público nos EUA - onde floresce a indústria pornográfica mais poderosa do Mundo - que fizesse do seio desnudo o ex-libris da sua campanha seria, provavelmente, presa (estarei a exagerar, Comandante?). Como dizia o Archie Bunker, that's why I love America!
PS (act.): Há coincidências assim. Duas horas depois de escrever este post, pus-me a ver na TV um documentário - aliás excelente - sobre os Sex Pistols. A certa altura, quando os SP já não podiam actuar no Reino Unido, há um americano (locutor de rádio, ou empresário de concertos, ou algo assim) que liga ao Johnny Rotten e os convida para irem tocar aos EUA: "California is the best! No one is repressed in LA!", diz o américa. Resposta entaramelada do J. Rotten: "Oh yes you are. Mentally repressed". Ainda bem que não sou supersticioso.
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