O SEXO DO FILHO: O Dr.Luís Villas-Boas provocou o terramoto esperado, com as suas ideias sobre a a adopção em casais homossexuais. Desprezo o patrulhamento ideológico que se seguiu ( só faltou quererem queimar o homem), mas agradeço-lhe ter demonstrado, uma vez mais, que é da boca dos psicólogos, sobretudo os clínicos, que sai a maior quantidade de asneiras "científicas". Como colega dele ( em part-time), talvez possa contribuir com uma ou duas pequenas notas.
Metade da minha vida profissional passo-a, há cerca de doze anos, com a cabeça enfiada nas histórias das vidas das pessoas, e devo uma boa parte dos charutos e livros que compro, ao produto da educação heterossexual biparental. Muitos do que me procuram fazem-no porque foram criados em ambiente certificadamente heterossexual: violento, egoísta, desinteressado, narcisista, histérico, frio. Nada me diz que um par de lésbicas ou de homossexuais não possa educar crianças tão bem ou tão mal, como qualquer outro casal heterossexual. Da minha pequena janela para alma humana, esperma e óvulo não garantem a qualidade da dança.
Outra questão, é a influência de um ambiente familiar homossexual sobre a futura orientação sexual do infante. Todos os doentes, homossexuais e lésbicas que ajudei, foram criados em ambiente heterossexual: tal não os impediu, au contraire, de desenvolverem uma orientação sexual alternativa. Então qual pode ser o problema? Apenas a velocidade dos processos de inovação. Antes de se permitir a adopção a casais homossexuais, deve-se avançar na concessão de direitos iguais a estes casais: em termos conjugais, fiscais, de tutela educativa, etc. O objectivo seria dotar as famílias homossexuais das mesmas armas do que as outras. Uma criança educada por homossexuais, terá nos primeiros tempos, algumas dificuldades de aceitação, na escola, na rua, no clube de bola local. Sempre foi assim nos processos de inovação, como qualquer aprendiz de psicologia social saberá: a pressão para a uniformização, exercida pelos códigos culturais maioritários não é brincadeira nenhuma, faz parte do proprio processo. Protegidas legalmente, sem concessões, lésbicas e homossexuais poderão contrabalançar as naturais dificuldades de aceitação, que as suas crianças sofrerão numa primeira fase do processo. Óbviamente que os critérios para a adopção devem ser idênticos, qualquer que seja a sexualidade do casal adoptante: não se entregam crianças a quem quer brincar aos papás e mamãs.
Resta um último grão de areia, que muitas vezes vem ter comigo em forma de pergunta de um ou outro aluno curioso: "Pode gente que rompeu com o modelo educacional/familiar no qual foi criado, oferecer um ambiente familiar confortável alternativo?" Pode, pode: como dizia João dos Santos, estamos cá para fazer falhar a educação que recebemos. Sosseguem as boas almas, tal não significa nenhuma deriva demencial pós-moderna, habitualmente monótona no seu ressentido processo de desconstrução. O que João dos Santos queria dizer, é que ser pai ou mãe, implica uma revisão criativa do que foi nos legado nesse campo, implica a capacidade de (voltar a) escolher o que queremos passar aos nossos filhos, de acertarmos o passo com a capacidade de estarmos sós. Uma mulher que não quis ter um marido, mas que quis ter um filho com outra mulher, lá terá as suas razões. Nós é que não temos nada a ver com isso.
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