ONTEM NA FERRADURA, HOJE NO CRAVO: No final da semana passada, alguns espíritos mais sensíveis (não apenas, mas sobretudo de esquerda) ficaram, quiçá exageradamente, com "pele de galinha" com algumas coisas que aqui foram escritas. Como é próprio de uma nau plural, chegou agora a vez de eriçar o pelo a outros espíritos sensíveis (não apenas, mas sobretudo de direita).
O nosso leitor Miguel Montenegro enviou-nos esta carta. Foi encurtada porque o seu comprimento (que não o seu conteúdo) era mais digno de uma encíclica, do que de uma opinião para publicação num blogue.
O seu conteúdo não é da responsabilidade da gerência. No meu caso, até estou em profundo desacordo com o tom geral da missiva. Não a comento porque já exprimi a minha opinião sobre o assunto e não me apetece repetir-me.
Certamente alguns leitores nos cobrarão por esta publicação, mas pagamos com boa cara o preço da liberdade e do pluralismo.
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Em Portugal ressurge o escândalo da criminalização (da conduta) de mulheres que efectuaram abortos, desta vez em Aveiro.
Assistimos à tentativa de uma imposição de uma maioria a toda a população. Parece surreal que os católicos não entendam que o facto de as mulheres que praticam o aborto (e na realidade só elas sabem em que condições) não serem «criminalizadas», não obriga qualquer outra mulher, católica ou não, a ter a mesma conduta...Mas não é...
Alguém devia lembrar aos católicos que os inquisidores deviam acreditar naquilo que faziam, quando lançavam os pecadores à fogueira...ou quando obrigaram Galileu, usando argumentos bastante convincentes, a abjurar o heliocentrismo...
Alguém devia lembrar aos católicos o vergonhoso comportamento do Vaticano em relação ao nazismo e ao Holocausto, culminando na ajuda à fuga de nazis que praticaram crimes hediondos contra a humanidade, oferecendo- lhes passaportes do próprio Vaticano...
Alguém devia lembrar aos católicos que ainda hoje o Papa é contra o uso de preservativo, método anticoncepcional que evita o contágio de várias doenças sexualmente transmissíveis, algumas das quais tristemente célebres pela dimensão epidémica que hoje têm... Os católicos decerto não usam preservativos...
Não querendo simplificar aquilo que por natureza é complexo, visto envolver valores religiosos, morais, sócio-económicos, comportamentais, legais e conhecimentos médicos, apetece-me perguntar aos veementes defensores da criminalização do aborto se já leram as legislações Espanhola, Francesa, Alemã, Inglesa ou Sueca sobre o assunto...e se sabem há quantos anos (décadas, na maior parte dos casos décadas) estão em vigor...Com certeza que não
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Alguém lhes devia lembrar que por não ser crime (o aborto), ninguém é obrigado a consumar esse tipo de prática.
Alguém lhes devia lembrar que desde que as últimas encíclicas papais aceitaram a pena de morte, já ninguém os leva a sério quando falam do valor “vida”...
Alguém devia lembrar aos governantes de agora, que os católicos espanhóis não são mais infelizes que os católicos portugueses...
Alguém lhes devia lembrar o sofrimento que as mulheres que praticam o aborto, sendo crime ou não, se irão auto-infligir porventura até ao fim dos seus dias...
Alguém devia lembrar aos católicos, que ao que se diz, Cristo depois de ressuscitado apareceu a Maria Madalena...
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.