A PIROTECNIA E OS SEUS PERIGOS: O discurso é velho e relho. A única causa para algum alarme é o poder persuasivo da mentira repetida, que Goebbels bem conhecia. O problema é que, ao contrário da Alemanha nazi, não podemos esperar por uma intervenção vinda do exterior que nos redima. Pede-se, por isso, uma resistência quotidiana, tão paciente como a difusão da mentira. Entendo que isso não é uma liberdade, é um dever cívico.
Sobre o problema da descolonização já escreveu aqui, com lucidez, o nosso FNV, sempre tão "civilizado" quando discute com a direita. Mas, em minha opinião, o mal maior está alhures. Escreve VLX que "a propalada falta de liberdade afligia franjas da população, alguns políticos, o PCP em geral mas não consistia um problema concreto ou diário para a maioria da população". Três notas apenas.
A primeira: para quem se preocupa tanto com o carácter "ofensivo" das opiniões, VLX ofende pessoas vivas, a memória de pessoas mortas e as famílias dessas pessoas (grupo onde me incluo) - as tais "franjas da população" que eram presas e torturadas, ou, lembrando apenas casos que me são próximos, que iam a Espanha, disfarçados de Pauliteiros de Miranda, buscar refugiados da Guerra Civil e os escondiam em casa, ou que não podiam votar, ou que só conseguiam obter os seus diplomas de licenciatura alguns anos depois de a terminarem.
A segunda, especialmente dirigida ao público mais novo (este ano já fazem 30 anos os primeiros portugueses que nasceram em democracia...): infelizmente, VLX tem razão quando escreve que a falta de liberdade não era um problema concreto e diário para a maioria da população. Só é pena não ter explicado que isso sucedia por causa do analfabetismo generalizado, da ignorância maiúscula e da indigência cultural em que a ditadura galhardamente mantinha essa maioria da população. A pequena minoria, ou pertencia (cultural e economicamente) ao regime, ou entrava na clandestinidade, ou praticava diariamente uma resistência discreta - para manter viva e visível a ideia de que as coisas não tinham que ser assim.
A terceira: as "franjas da população" são, hoje, os que pensam como VLX. Felizmente, têm liberdade para escrever publicamente o que bem lhes apraz. Mesmo que sejam opiniões ofensivas (vd. primeira nota) e enviesadas (vd. segunda nota). Hoje, bato-me para que VLX possa dizer o que quer. Nenhum de nós saberá nunca se ele faria o mesmo por mim antes de 1974.
Assim, agradeço ao VLX por me ter fortalecido, em tempos de tão grande tentação, na minha fé na superioridade moral da democracia.
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