POLÍTICA VIRTUAL: Recupero a expressão usada por Eurico de Figueiredo para caracterizar o guterrismo e a actual direcção socialista, sua discípula, a propósito da crónica de Pacheco Pereira hoje publicada no Público. A referida crónica, entre outros aspectos, diaboliza o excesso de futebol na sociedade portuguesa e também critica o facto desse excesso se traduzir, principalmente, no destaque e na exagerada cobertura televisiva - e não só - de tudo o que possa estar relacionado com o futebol.
Concordo em absoluto e penso mesmo que é terceiro mundista que os telejornais abram com notícias de jogadores, de despedimentos de treinadores ou de eleições em clubes, entre outras novelas da bola.
No entanto, voltando à dita crónica, penso que faltou alguma reflexão sobre as causas deste fenómeno. Parece-me que o futebol foi ocupando um espaço mediático que antes pertencia à política. A discussão política séria, entre pessoas sérias que discutem projectos e que os tentam pôr em prática merece credibilidade e desperta a atenção dos cidadãos, já que sentem que se discute o seu futuro em sociedade. Se estes "descobrem" que estão perante "política virtual", que só discute lugares, que se esgota na conquista de votos e que vive em permanente maquilhagem televisiva sem substrato e que não tem outro projecto que não o perpetuar-se no poder, custe o que custar, então os cidadãos deixam de acreditar na política com algo sério. Passamos a ter a famigerada "política espectáculo", que mais não é do que isso mesmo: um (triste) espectáculo sem tradução substantiva. E que merece a mesma atenção que é dispensada a qualquer outro espectáculo.
E o futebol tem uma grande vantagem sobre a política como fenómeno de entretenimento: é apenas um desporto e... tem, sem dúvida, melhores artistas.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.