PRIORIDADES: Ia ontem rumo à concentração desta bela nau, e percorria a pé, uma vez mais, com Neptuno, as ruas da velha Alta de Coimbra. Eu e este meu amigo conhecemo-nos há vinte anos, conhecemos a Alta há vinte anos, como ela está agora: feia, porca e degradada. Pormenorizando, paredes em ruínas, casas a cair de podre, tabiques por todo o lado, promessas de obras adiadas. Em qualquer cidade média de Espanha ou de França, o casco histórico é o cartão de visita e o emblema da cidade. Exprime o patamar civilizacional, a abertura ao mundo, o respeito pela memória colectiva, o brio do povo que a habita.
Dir-se-à que a cidade é pobre, que faz o que pode. Nem tanto. Quinze anos de fundos comunitários não foram suficientes para os salatinos e restantes membros da comunidade recuperarem a Alta. Mas um campeonato de futebol bastou, para a Câmara se endividar a construir um estádio novo, que registará, como o anterior, uma assistência média de 4000 espectadores enternecidos com um clube quase moribundo.
Muito me ri, quando a propósito da vinda dos Stones à estreia do novo estádio, se disse que Coimbra dava um cosmopolita passo em frente. Responsáveis e decisores que oferecem aos seus munícipes e aos seus visitantes, a alma de uma cidade histórica em ruínas, enquanto se excitam com a vinda dos Pedras Rolantes, dão um passo em frente, sim: acrescentam e fazem acrescentar à cidade que governam, um metro ao seu já longo e cabotino provincianismo.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.