UM MAU ARGUMENTO PARA UMA BOA IDEIA: O Dr.Louçã disse hoje à TSF, que não nos devemos meter, ainda que simbólicamente, no vespeiro afegão. Eu também: meter simbólicamente, já de si, é um vespeiro. Mas o Dr.Louçã acrescentou que o Afeganistão é agora um território sem lei nem roque, e que "voltou a ser um grande produtor de ópio". Asneira, e da grossa.
Na Ásia Central, o ópio foi, desde a expansão muçulmana, uma cultura resistente. A capitulação face aos britânicos assinada com o Tratado de Gandmark (1879), e a fixação das suas fronteiras pela comissão anglo-russa em 1893, iniciou o sudeste do país na produção sistemática da papoila dormideira. Kabul, por pressão americana, interdita a produção em 1945, mas meia-dúzia de anos depois, a situação restabelece-se, em parte porque o Irão passa a proibir musculadamente a produção de ópio.
A partir da invasão soviética de 1979, que como se sabe provocou uma enorme onda de protesto internacional, a produção de ópio intensifica-se: em 1986, o Afeganistão "livre" produzia entre 400 a 500 toneladas de ópio bruto. Isto representava o triplo da produção paquistanesa, país que acolheu os três milhões de refugiados afegãos, que participaram, como factor de sobrevivência, no tráfico fronteiriço.
Os moudjahidine, que durante a ocupação soviética, controlavam 90% do território, os shouravis confinando-se às cidades e vilas, foram encorajados pela CIA e pelo ISI paquistanês a produzir ópio: não só como forma de autofinanciamento mas também para iniciar os shouravis nos prazeres abandónicos da heroína. Depois veio o período taliban, que queimava haxixe para os responsáveis do UNODC verem, enquanto Hekmatyar se entretinha a assassinar os responsáveis do partido Harakat, que queriam negociar ajudas mensais em dólares, em troca do fim da cultura da papoila.
O que se passa hoje no Afeganistão em matéria de droga, Dr.Louçã, é o que se tem passado nos últimos mil anos de uma forma geral, nos últimos dois séculos de uma forma específica.
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