UMA MANOBRA DELICADA (post longo): Quando comandamos uma barca, de vez em quando, temos de fazer umas manobras delicadas. Esta é uma delas.
Esta semana assisti a uma acesa troca de argumentos entre dois amigos meus (FNV e um membro dos Mostrengos, vereador da Câmara de Coimbra com o pelouro do Estádio). O pretexto substancial foi a intervenção deste último a propósito da morte de Féher, que FNV entendeu ser oportunista e que nem se devia ter dado, uma vez que sendo responsável pelo Estádio Cidade de Coimbra não devia ter falado sobre isso. Ou porque a situação grave que denunciou também se passava no estádio sob o qual tem responsabilidades e devia estar calado e não organizar lá nada, ou então não se passava e estava apenas a querer retirar dividendos públicos de uma situação delicada. Depois, a discussão ganhou uma dinâmica própria e autónoma sobre a qual não me quero pronunciar (são ambos crescidinhos e têm arcaboiço).
Estando fora, fui informar-me: ler jornais, ouvir rádios, que é o que se pode fazer na Internet. E acho que o Nuno Freitas fez muito bem. Cumpriu o seu dever de responsável político com coragem e empenho - coisa aliás rara em Portugal, onde muita gente prefere esconder-se nestes momentos, pondo um ar contristado, um luto de ocasião, abrindo um inquérito ou fingindo que não é responsável por nada. Concordo, grosso modo, com o que se diz neste editorial do Público a esse propósito.
Relativamente ás críticas substanciais do nosso companheiro de tripulação FNV, entendo que não se pode estar sempre a pedir aos políticos que estejam atentos e se empenhem, e depois quando alguém alerta para problemas, atacá-los. É, pelo menos, incongruente exigir que os políticos assumam responsabilidades e sejam capazes de obter os meios para tal e achar que não se pode ou não se deve reivindicar os meios para cumprir essas obrigações. Mais, enquanto político e tendo ainda por cima uma preparação técnica para tal (o Nuno Freitas é médico), deve-se aproveitar momentos destes, em que os media dão atenção a estes assuntos, e tentar prevenir um acidente grave. Como muito bem escreveu aqui o nosso
TRM, as pessoas mais saudáveis num campo de futebol são os jogadores: quero ver como vai ser, se se dá um problema sério com um ou mais espectadores no Euro.
E quanto ao tom mais ou menos elegante das respostas do senhor vereador ao munícipe, meu caro FNV, esse argumento é tão absurdo quanto eu afirmar que as críticas frontais e duras de um psi a alguém lhe podem abalar o equilíbrio psicológico. Quem é atacado, tem o direito de responder (bem ou mal, isso não interessa para o caso). Se o devia fazer aqui (num redil, para usar a tua deliciosa expressão) ou noutro sítio qualquer, isso fica ao critério de cada um e de quem assiste.
Eu não me interessaria pelo assunto, se não tivesse ambos os meus amigos na conta de pessoas articuladas e inteligentes. Não me pronunciei antes, porque tinha de me informar e não me queria meter numa discussão a meio. E hesitei em fazê-lo agora, porque a última coisa que quero é reabrir uma discussão que se encerrou naturalmente (e à qual nada acrescento que não seja tomar partido).
Ser amigo de alguém nunca me impediu de discordar. Como prova o que se passa diariamente no Mar Salgado e como o Nuno Freitas bem sabe. Mas também por conhecer e estimar os dois intervenientes na discussão, não ficava bem comigo se ficasse calado.
P.S. - Por respeito a ambos, não me intrometi na discussão a meio. Não foi o caso de outros. Num caso de forma lamentável - o Desaprovador do mesmo Mostrengos resolveu escrever uma daquelas peças cheias de fel que, de tão retorcida, não se percebe se contem mil insultos ou mil ideias confusas. O Luís do Natureza do Mal, provando que domina o conceito de convergência objectiva de interesses e que não cede um milímetro à reacção, aproveitou para se exercitar um pouco mais contra o seu ódio de estimação blogosférico. E o Terras do Nunca topou o problema à légua e gozou connosco, o que vem fazendo de forma magistral desde o início do ano (nunca mais vem uma daquelas postas bem esgalhadas sobre o Afeganistão continuar a ser o Afeganistão ou a importância de manter o Iraque fiel às suas tradições ?).
P.S. II - Detestei escrever este post. A coisa que menos aprecio na blogosfera é quando esta se converte numa conversa entre amigos. Entre compinchas. Quando fica impregnada de amiguismo. Provavelmente este post comete esse pecado. Talvez os meus dilemas internos devessem ficar só comigo. Salva-se o facto de com ele ficar provado que uma tripulação composta de velhos amigos pode ser plural e manter discussões leais e francas. E de que aqui não há nem concertações de posições nem molezas para amigos.
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