89!Curioso número..., pensarão alguns. Será, realmente. Mas se pensarmos que para uns quantos poderá constituir uma meta ou pelo menos o alcançar uma etapa difícil, as coisas poderão mudar de figura. E muda-se efectivamente de figura se se atingir aquele número depois de uma quantidade infindável de porcarias cozidas: de cenouras cozidas, batatas cozidas, peixe, brócolos, couves, massas, feijão verde, só faltou mesmo cozer alface! Apenas no aniversário se teve direito a rancho melhorado mas, ainda assim, não passou de um cozido à portuguesa - embora se possa fazer boa batota no cozido (sugere-se cozido normal, mas morcelas, alheiras e entrecosto deverão antes ir ao forno; para o arroz, necessariamente feito com o caldo das carnes, batatas e legumes acompanhantes, aconselha-se um refogado inicial de cebola e azeite – Romeu, que ainda não se fez melhor -; procedendo-se assim, adultera-se ligeiramente o cozido mas o dito melhora substancialmente).
Grelhados também enjoam. Que porcaria de coisa!... Mas o que mais dói é o fim dos acompanhamentos: as saudades de um bom arroz de feijão, de favas ou de ervilhas, ou de um arrozinho de tomate a colorir um rodovalho ou a abraçar uns filetes de pescada (uma marmotinha, que fosse!...). Ou de uma batatinha miúda, pintalgada de salsa e a acompanhar uns bons bifes de fígado mal passados. E uma açorda de tomate no forno, bem tostada, sob uma porção considerável de ovos? Ou mesmo apenas uma açorda de bebé, só com azeite e um dente de alho, a envolver um bifinho de vaca? E - já que se sonha - porque não uma simples farinha de pau com tortilhas de fiambre? Magoa também a recordação dos pratos compostos, de uma cabidela, de um arroz de rim, de uns rojões à boa maneira da Beira com grelos bem macios. Só de pensar nisso fica-se com água na boca... E quem diz água pensa logo no vinho: um fresquíssimo Muros de Melgaço, para estes dias primaveris, ou outros verdes familiares tão frescos e, pelo menos enquanto não se comercializam, tão em conta... Vem-me à memória um Redoma muito apropriado às lareiras das noites ainda frias e o Bombay dos felizes aperitivos crepusculares, aconchegado com tostas e foie-gras, com um Serpa ou um Azeitão. Recordo-me também de um LBV Noval de 94, parceiro amigo na escrita que irrita certos sectores. E, claro, um bom Johnnie Walker com Castello.
Se a falta disto dói e magoa, melhor não faz a companhia necessária para se atingir o numérico objectivo: o exercício físico. Sejamos sinceros: alguém preferirá esfalfar-se ao fim da tarde numa bicla à beira-mar quando é evidentemente muito melhor desfazer um Moskovskaya carregadinho de gelo e de água tónica à beira-bar?
E as aulas do health-club? Alongamentos? Alongamentos?!?... Já não chega ter conseguido apertar os cordões dos tenis?!?...
É certo que se brinca e exagera um pouco: a ginástica, além de politicamente correcta, faz excelentemente bem à saúde e até ao ego. Todos dizem – e eu não serei excepção - que é com enorme satisfação que se atingem os objectivos traçados inicialmente (os primeiros dez minutos de bicicleta seguidos, a primeira corrida na esteira sem cair para cima do parceiro do lado – a quem aproveito para desejar rápidas e sensíveis melhoras -, a primeira fase de três abdominais seguidas, enfim... todo esse tipo de conquistas). E devo confessar que se fazem bons amigos nesses estabelecimentos e que são todos muito simpáticos: ninguém se incomodou muito e perceberam todos perfeitamente a situação quando os pesos ganharam vida e foram a rolar descontraída e velozmente pelo chão fora até baterem violentamente na parede, infelizmente forrada a espelhos (parece que irão ser repostos esta semana).
Mas é duro. Atingir 89 é duro mas, na verdade, é agradável deixar de ser cumprimentado matinal e diariamente pela balança por um nove (pelo menos, no primeiro dígito), que é um número asqueroso e horrível, até porque faltam exactamente nove para o objectivo final. Acontece que isso hoje não me interessa nada pois amanhã é dia de folga e de lampreia e, por mim, os noves podem crescer o que quiserem este sábado!
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