DA QUEDA: Falo da utopia operacional, do chamado mundo comunista. Ontem, os media deram cobertura a um "debate" que incluia Saramago e Soares, carregado de frases como "é preciso defender a democracia do poder económico" ou "eu estou contra o sistema". Banalidades destas podem ouvir-se em qualquer Big-Brother de 3ªsérie, ou pela madrugada dentro de uma esplanada, misturadas por adolescentes letrados com canecas de cerveja.
Enquanto oprimia as pessoas, a utopia operacional colava a vergonha nos lábios dos velhos combatentes, e mantinha afiado o cutelo dos visionários, que sabem o que é melhor para nós, se nós fôssemos outra coisa qualquer diferente daquilo que somos. Mas agora, depois da queda crua e podre da sociedade dos túmulos, a democracia burguesa, como nos tempos de Spengler, Renan, Sombart, Schmitt, volta a ser a velha prostituta desdentada, que sobrevive graças às esmolas que recolhe à porta do hotel de luxo, morada de gordos capitalistas de polainas e charuto mal apagado.
O "sistema" e a "democracia", morada certa, de mui e infectas imperfeições, construiu-se todavia nos últimos duzentos anos, sobre as ruínas do fanatismo religioso e da imobilidade, outrora deserta do capital. Não serão projectos capazes de arregimentar indigentes nem de levantar os mortos de tédio; mas ajudam-nos a tolerar os primeiros, e a evitar doses industriais dos segundos.
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