DIÁLOGO: Pois eu continuo a ouvir ecos da grandiosa ideia: o problema do terrorismo resolve-se com diálogo. É falando com aquela malta que se resolve tudo! E podemos ajudá-los, analisar os seus gravíssimos problemas sociais, as suas reais motivações, os seus verdadeiros impulsos (não me refiro aos impulsos dos telefones que invariavelmente são usados para espoletar as bombas). Da próxima vez que puserem umas bombas, a gente chama os gajos, põe-lhes carinhosamente a mão no obro e diz-lhes: «ó pá, porque é que puseste a bomba, pá? ‘Tás parvo, pá?», ou «Hombre, qué pasa?», e vê-se o que eles têm a dizer. É que se calhar não é uma guerra santa, não é o ódio ou a intenção de semear o terror, pode ser outra coisa qualquer (que eles, estranhamente, escondem, alegando sempre os outros motivos), e convém saber qual é. Temos que lhes perguntar! Até parece que o estou a ver, ao terrorista, de olhos tristes e cabisbaixos, murmurando para as câmaras da televisão «eu só queria uma casinha...» ou «eu coloquei as bombas para protestar contra o preço do pão» (que é geralmente o que mais move os terroristas...), ou ainda «eu pus a bomba porque já não aguentava a minha vizinha... Mas agora já está tudo bem!...» (e quem diz vizinha diz sogra, primo, cunhado, patrão, o tipo do terceiro esquerdo, que deixa sempre o carro mal parado...). Pode-se até tornar a coisa num programa televisivo de sucesso, com o Henrique Mendes à cabeça.
Mas acho que se devia estudar a possibilidade de se ir mais longe. Por exemplo, criar uma linha azul telefónica do terrorista sem abrigo, gratuita, claro, e abrir uma conta na CGD para donativos. Podia-se ainda falar com os donos dos hipermercados para se juntarem à causa e enviarem leite e iogurtes quase em fim de prazo para alimentação dos terroristas, resolvendo assim os seus problemas sociais. E restos de bolo-rei. Talvez bombinhas chinesas e petardos de carnaval para as crianças. Para os mais crescidos, pode-se mandar material pirotécnico (talvez a Câmara do Porto possa ceder o seu, um vez que nunca conseguirá rivalizar com o de Gaia). Mantinhas e cobertores são sempre bem vindos, álcool não. Antes assim. Aquela gente, com os copos, ainda manda isto tudo pelo ar (sem querer, claro).
Fundamental é criar-se uma fundação para apoio ao terrorista. Estas coisas sem fundação não têm graça nenhuma. As verbas não são problema pois forneceram-me uma ideia original e simplicíssima: o Estado doa um qualquer edifício em ruínas, uma qualquer Câmara Municipal paga as obras de recuperação, põe-se lá um gabinete de um antigo PR e o Estado paga uma renda pelo espaço – não custa nada. Para o dia a dia, as verbas poderão vir do programa do Henrique Mendes e de publicidade variada (por exemplo, "chiclets amam's: as que rebentam sem estouro!..."). Questão importante será a do conselho de administração: terá de ser alguém que perceba da poda. Talvez aquele militar de Abril...
Podia-se criar também na ONU uma bancada para os terroristas, para eles dizerem o que têm a dizer e, acaso não sejam atendidos, estarem mais à vontade para colocarem os seus petardos onde muito bem entenderem.
É possível até (mas isto é área que não domino) que aplicando a ideia ao direito penal se resolva a questão da criminalidade em geral. Matou? Então vamos lá ao diálogo. Violou? Então vamos a um bate-papo porreirinho. Roubou? Troquemos duas de prosa.
Só quem não quer é que não vê que a ideia é genial, única, brilhante, própria de alguém fora do vulgar, a quem devemos aplaudir de pé. Depois da roda, não houve melhor.
É preciso pegar na ideia e desenvolvê-la, divulgá-la, não a deixar morrer. O seu autor deve promovê-la e debatê-la, aumentar as suas possibilidades infinitas. Sugiro, para ouvir o que têm a dizer sobre ela, que o seu autor a discuta com as autoridades portuguesas competentes, sei lá, o Ministro da Defesa, por exemplo.
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