EUROPA E AMÉRICA (2): Hoje tirei a noite para eles. No mesmo Causa Nossa, Luís Nazaré rebate um editorial de Sérgio Figueiredo no Jornal de Negócios. Não me interessa a parte final do post e a discussão sobre a Terceira Via, ainda que seja uma discussão interessante e Luís Nazaré possa ter um ponto. Interessa-me sobretudo a pergunta de retórica por ele efectuada: Será que alguém ainda se atreve a sustentar que não existem diferenças entre a esquerda (o Partido Democrático) e a direita (o Partido Republicano) nos Estados Unidos? Que Bill Clinton e W. Bush são duas faces de uma mesma moeda? Já tive aqui oportunidade de considerar que a emenda constitucional proposta por Bush sobre os casamentos gay me pareceu exagerada. E considero que por vezes os republicanos fazem concessões perigosas à direita evangélica. Mas isso são assuntos essencialmente internos. No que nos interessa, a política externa, a diferença é pouca, para não dizer nenhuma.
Vejamos. Os democratas (Kennedy) meteram a América no Vietname e um republicano (Nixon) acabou com esta guerra. Os republicanos (Reagan) invadiram Granada e os democratas (Clinton) a Somália. Reagan largou bombas sobre a Líbia de Kadhafi, Bush pai expulsou o Iraque do Kuweit e Clinton bombardeou o Sudão, o Afeganistão, a Bósnia, a Sérvia e o Kosovo (em nenhum dos casos com autorização da ONU, tirando, hélas,o Iraque). Como se vê, no pós-Guerra Fria, o mundo ficou mais perigoso.
A outra coisa que se poderia concluir desta lista era que os democratas têm um gatilho mais rápido, ainda que menos eficiente. Mas talvez seja precipitado ir por aí. Deixo no entanto aos leitores um exercício: seria Clinton, que mandou bombardear uma fábrica de medicamentos no Sudão no dia a seguir aos atentados nas embaixadas de África, capaz de reagir com a contenção que Bush mostrou nos dias a seguir ao 11 de Setembro ?
Sinceramente não sei. Tenho consciência apenas que, sendo um português que me revejo nas alianças do meu país de séculos (no caso inglês) e de décadas (no caso americano), acho que o governo português lhe deveria demonstrar o nosso incondicional apoio e conselho, como aliás Guterres fez (e bem) quando Clinton andava a disparar contra tudo o que mexia.
É que as alianças não são para ser válidas quando o governo do país aliado nos é simpático. Entre sociedades democráticas, os governos escolhidos livremente pelos povos nossos aliados são sempre para respeitar. Não para insultar ou humilhar.
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