EUROPA E AMÉRICA:Neste post do Causa Nossa, Vital Moreira (VM) divulga um artigo do The Economist que explica a simpatia europeia por Kerry. Concordo com a análise feita sobre os motivos da simpatia por Kerry, mas já me custa deixar passar em claro a ideia de que existe uma "...hostilidade larvar da opinião pública norte-americana em relação à Europa...".
Os motivos pelos quais muitos americanos (cerca de metade) simpatizam com Bush e antipatizam com Kerry são de origem bem americana e têm pouco que ver com uma imagem mais ou menos europeia. Têm origens diversas e bem antigas na história dos EUA, passam pela Guerra da Secessão, pela Guerra do Vietname, pelo movimento anti-guerra e hippie, pela luta pelos direitos civis, pela revolução conservadora reaganiana ou pelo tendencialmente maior conservadorismo do Sul relativamente ao Norte (que em tempos foi democrata e agora é republicano). Passa também pela imagem elitista que as gentes do Nordeste e os seus políticos em particular têm no resto da América, dada a menor diversidade da população aí residente (sobretudo WASPs - brancos protestantes).
Há neste tipo de argumento a tentativa de criar a ideia de que há duas visões do mundo muito distintas entre a América (ou pelo menos de metade da América) e a Europa. Não há. Há valores iguais, de respeito pelos direitos humanos, pela liberdade de expressão, de organização, de culto religioso. Onde há diferença é nos meios. A Europa há muito abdicou de ter uma política de defesa forte. Prefere uma vida confortável a ter de pagar o custo social e político de ter de se armar.
Quando as coisas aquecem, como se viu no Kosovo, na Bósnia, no Afeganistão e no Iraque, os americanos lá vão, quais mauzões, fazer o servicinho sujo que os europeus não podem, porque não conseguem, fazer.
Entretanto, demonstrando a mais despudorada das insensibilidades, parte da intelligentzia europeia entretem-se a apelidar os presidentes americanos de ignorantes, burros e outros elegantes epítetos - Reagan levou esta dose, Bush leva pela medida grande (vidé o post acima citado que o apelida lapidarmente de ignorante) e mesmo Clinton chegou a ser tratado como um mero tarado sexual que lançou bombardeamentos na Bósnia para encobrir os seus affaires. Estas pérolas argumentativas, vindas de um continente que deve em grande parte a democracia na segunda metade do século XX aos americanos, primeiro combatendo os nazis e depois fazendo frente aos comunistas. Estes insultos e esta arrogância intelectual, vindos de supostos aliados, após o bárbaro ataque de 11 de Setembro de 2001 que matou cerca de 4000 pessoas, entre as quais cerca de 500 britânicos, 4 portugueses e gente de mais de 30 nacionalidades e de todas as religiões. Os amigos são mesmo para as ocasiões.
Esta corrente de opinião, que atravessa grande parte da esquerda europeia, é certamente fruto de um anti-americanismo reflectido e ponderado e não tem nada de larvar...
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.